terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Esperava mais

O jornalista carioca Marcelo Araújo começou a sua carreira literária ao lançar um livro com onze contos, em 2009, intitulado Não Abra - Contos de Terror, publicado pela editora Thesaurus. Pela mesma editora, em 2011, o autor lançou o seu segundo livro, Pedaço Malpassado, que contém dois contos. 

Também pela Thesaurus, no final de 2012, o autor lançou o seu terceiro livro, A Maldição de Fio Vilela. Diferente dos outros dois que reunia contos, nesse o autor se dedicou estritamente a desenvolver uma única história, que se passa na zona rural de um pequeno município carioca e envolve uma família assombrada pela presença de um estranho chamado Fio Vilela.

Fonte: Editora Thesaurus

O argumento do livro é muito interessante, mas o autor não soube explorá-lo com profundidade, deixando para o leitor uma história superficial e de um suspense fraco. Ao ler a história, pude perceber mais o trabalho do escritor contista do que o romancista.

Por ser um contista, Marcelo Araújo imprimiu no seu mais novo texto, as características daquele que escreve conto, como a não preocupação de desenvolver mais os personagens (somente são descritos as características físicas dos personagens), detalhamento do local onde se passa a história (no livro, não temos sequer o nome do município onde se desenrola a história), aprofundamento da trama e mais situações de tensão, perigo e horror.

Assim, considero o livro uma novela, ou seja, um conto com uma extensão maior. Acredito que daria para o autor explorar mais as cenas, colocar mais tensão, mais suspense, mais terror. As cenas que eu esperava que isso acontecesse, os personagens simplesmente passaram por ela sem maiores detalhamentos, sem maiores sobressaltos, deixando a história um quanto frouxa.

O autor privilegiou uma grande quantidade de diálogos, alguns desnecessários, que poderiam dar lugar a construção de um texto mais denso, mais assustador e com muito mais tensão. Se ao invés de alguns diálogos, Araújo se detivesse em elaborar melhor um clima ao detalhar uma cena, um personagem ou um local, por exemplo, a história ganharia mais qualidade.

Adorei o vilão Fio Vilela e creio que faltou, conforme indiquei acima, explorá-lo mais, tal como aconteceu com os outros personagens. As únicas cenas um pouco assustadoras, se deram, de fato, com a aparição de Vilela, mas foram cenas rápidas, superficiais, infelizmente.

O final da história foi bem construído, apesar de várias perguntas não terem sido respondidas, mas acredito que isso foi um artifício do autor em deixar que cada leitor desse um fechamento conforme a sua imaginação.

O encerramento do livro deixa claro que haverá uma continuação. Seria muito bom o escritor continuar a história e aproveitar para aprofundar mais o enredo. Quem sabe esse livro tenha sido somente uma introdução rápida para uma história que se desdobrará e se mostrará mais terrível e sombria ainda. Torço para que isso aconteça.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

15ª Festa do Livro da USP - 2013

Anos atrás a "Festa do Livro" na USP ocorria no interior do prédio da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), mas recentemente ela foi transferida para as dependências da Escola Politécnica, com muito mais espaço para os livreiros fazerem a exposição das suas obras e para os leitores circularem.

A "Festa do Livro" é uma tradição na USP e ocorre todos os anos. É aberta ao público e neste ano vai ocorrer entre os dias 11 e 13 de dezembro.

O desconto mínimo que cada editora deve atribuir aos seus livros é de 50%, por isso que vale muito a pena participar da Festa. Lembrando que as editoras não disponibilizarão somente livros acadêmicos. No ano passado encontrei bons e interessantes títulos de ficção, inclusive de literatura fantástica.



quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Você quer mesmo ser jornalista?

Já escutei e li de muitos jornalistas diversas lamentações sobre a profissão, que iam desde as poucas vagas de trabalho, a existência de um exército de reserva causador dos achatamentos salariais, a carga horária desregrada e a estafa produzida por isso até a eliminação - por hora - da exigência do diploma para o exercício da profissão. Tudo isso comprovei no livro Jornalista, da série Profissões, publicado pela Publifolha.


O livro aponta somente percalços e deixa de lado os pontos positivos da profissão, aspectos que existem em todas as profissões ("os dois lados da moeda") e que deveriam ser abordadas pela obra. Nesse sentido, o livro transmite a ideia de que o jornalismo é somente uma área desgastante, mal remunerada e que qualquer um pode ingressar nela, pontos que eu concordo em partes.

Destaco a primeira parte do livro, que oferece um panorama histórico dos meios de comunicação (jornal, rádio, televisão e internet), bem como um breve histórico da profissão de jornalista no Brasil. Em poucas folhas que proporcionam uma leitura fluída devido ao emprego de um vocabulário simples, é possível o leitor conhecer um pouco mais sobre a história da profissão que ele poderá seguir.

Nos capítulos seguintes inicia-se o "terrorismo" contra a profissão, com textos que indicam o quanto é difícil e não valoroso trabalhar como jornalista. A trégua com o terrorismo somente acontece no último capítulo. Três conhecidos e importantes jornalistas contam as suas trajetórias pessoais e profissionais e nos oferecem um depoimento sobre a profissão, com um otimismo não encontrado nas páginas anteriores. O que é unânime nos três depoimentos é que a graduação de jornalismo é importante, mas não fundamental para a formação de um profissional. Outros aspectos têm um peso maior que aliado a um curso universitário farão a diferença para os que querem ser jornalistas. Destaco apenas dois: muita leitura (ela deve ser diversificada; jornais e revistas são essenciais!) e domínio de uma língua estrangeira (nem preciso comentar sobre a Língua Portuguesa, né?).

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

A esperança da mudança com a força de Zumbi

Se saíssemos numa rua ou numa avenida qualquer movimentada de um grande centro urbano, como a que existe em várias partes na cidade de São Paulo e perguntássemos para as pessoas o que elas desejariam para 20 de novembro de 2020, com certeza, a maioria não iria associar à data a comemoração do Dia da Consciência Negra. Talvez desejassem ter mais dinheiro, obter uma promoção no trabalho, conquistar o amor não correspondido. Outras mais atentas com os acontecimentos no Brasil perceberiam a data e diriam que aproveitariam o dia de feriado para descansar, relaxar. Por sua vez, outras iriam expor o seu desejo que em 2020 o feriado não fosse mais facultativo, ou seja, tornasse nacional com a adesão, portanto, dos 5.564 municípios brasileiros. Infelizmente, acredito que ninguém teria a consciência de avaliar corretamente a data e desejar, além dos seus anseios individuais, algo coletivo, para o bem comum, como uma sociedade mais justa em oportunidades econômicas, de educação, saúde, saneamento básico, cultura entre outros, para todas as etnias que formam o Brasil, principalmente a negra, cujo país tem uma dívida histórica por ter submetido os negros a uma vergonhosa escravidão que durou penosos 388 anos (abril de 1500 até maio de 1888).
Apesar do fim oficial da escravidão, ainda em pleno século XXI, acompanhamos pela imprensa e pelos dados fornecidos pelos órgãos oficiais do governo como o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que ela ainda existe. Muito menos perceptível que outrora, escamoteada pelo falso discurso e ideia de que a miscigenação brasileira é um sucesso, sendo até referência para o mundo, acredito que os negros ainda não estão plenamente libertos. Há outra escravidão em curso. É a escravidão da falta de oportunidades para os negros, alijados de acessarem o que é de direito de todos os brasileiros, apesar de vivermos num Estado livre e democrático.
A passagem da condição de escravos para libertos, em maio de 1888, não melhorou o quadro socioeconômico em que viviam os negros no Brasil. Mais de 100 anos após a libertação, os negros são o grupo socioeconômico mais pobre do país. Os dados demonstram que a situação de renda, educação, saúde e desemprego da população negra no Brasil é aviltante e revela os preconceitos e a marginalização aos quais ela está submetida, apesar de haver movimentos negros bastante atuantes, que lutam pelo fim dessa situação.
A instituição do Dia da Consciência Negra, criado por lei em janeiro de 2003, mas já adotado pelo movimento negro desde a década de 1970, deveria ser um dia em que todos os brasileiros não só descansassem os seus corpos e mentes da rotina diária, mas sim, um dia de conscientização e reflexão sobre a igualdade racial no Brasil, um país ainda manchado por diferenças e discriminações raciais.
Enquanto anualmente o dia 20 de novembro passar por nossas vidas de forma insignificante, sem merecer uma reflexão e dessa reflexão gerar uma ação para mudar o status quo do negro no Brasil, teremos que conviver, ainda, tristemente com manchetes estampadas nos jornais que denunciam a violência e a falta de oportunidades e perspectivas que o negro sofre no país.
O crescimento econômico brasileiro, que o coloca como a sétima maior economia do mundo, não tem se traduzido em melhorias na educação básica, imprescindível para que o país obtenha no futuro uma geração que tenha as suas mentes descolonizadas do preconceito e da intolerância racial e passem, a enxergar, o valor que a miscigenação tem para toda a sociedade brasileira. O crescimento do país, não somente na área econômica, depende dos esforços, da relação e da união entre negros, mestiços e brancos.
Espero que em 20 de novembro de 2020, nós já possamos ter encontrado o ponto de união entre a mestiçagem e a negritude para a formação de uma força capaz de mudar a história do negro no Brasil. Que a partir dessa data, essa força, imbuída pela força de Zumbi, que lutou até a morte pela cultura e pela liberdade do povo negro, possa, brevemente, conseguir dar de vez a genuína liberdade para o povo negro.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

O raio-x de três grandes acidentes aéreos brasileiros

Num trecho do filme "O curioso caso de Benjamin Button", o protagonista ao explicar o porquê da sua amada ter sofrido um acidente que lhe causou algumas fraturas e arranhões, chega à conclusão que devido ao encadeamento de "uma série de eventos e incidentes interligados que não se pode controlar" a moça sofreu o atropelamento. 

A conclusão do personagem acima se aplica a qualquer aspecto da vida, principalmente nos acidentes aéreos, cuja sucessão de vários acontecimentos interligados uns aos outros e que não se pode controlar ou muitas vezes se pode controlar, mas por algum motivo não é controlado, sempre acaba por resultar em grandes tragédias.

Por mais que a tecnologia existente e a capacitação dos profissionais que trabalham com aviação permitem que os erros praticamente não aconteçam, vez ou outra tomamos conhecimento que um erro gera outro, que gera outro, que gera uma sucessão e isso forma uma série de erros que culminam num acidente aéreo.

A série de acontecimentos ingratos que causaram três dos mais trágicos acidentes aéreos brasileiros pode ser observada no livro Perda Total, do escritor carioca Ivan Sant'Anna e publicado pela Editora Objetiva.
O livro disseca o que ocorreu na tragédia dos voos TAM 402 (31/10/1996 - 99 mortos), GOL 1907 (29/09/2006 - 154 mortos) e TAM 3054 (17/07/2007 - 199 mortos).

Ao longo das páginas, o leitor encontra uma miscelânea de termos técnicos que fazem parte da aviação, o que poderia deixar a leitura cansativa, mas isso não ocorre, pois com bastante didatismo, o autor explica cada termo, facilidade adquirida pela experiência dele como piloto amador e por ser um apaixonado pela viação.

Cada tragédia é narrada com uma riqueza de detalhes, resultado de uma pesquisa profunda junto aos inquéritos policiais e da força aérea brasileira, manuais dos aviões fornecidos pelos fabricantes e entrevistas com os familiares das vítimas. Por causa do grande número delas, o autor se restringiu a contar a história de apenas cinco vítimas de cada voo.

O diferencial de Perda Total é não ser uma obra que apenas relata como foram os acidentes e fornece frias estatísticas. O autor vai além disso. Fornece detalhes das tragédias. Conta minuciosamente o que ocorreu antes, durante e depois dos acidentes, com as transcrições das caixas-pretas, detalhes técnicos, relatos de testemunhas e a história de vida de algumas pessoas que estavam em cada voo.

Ivan Sant'Anna teve o cuidado de apurar cada informação e cada detalhe. Soube majestosamente dosar essas informações ao longo da sua escrita para não deixar a leitura tediosa. 

Após ler o livro, o leitor chegará à mesma conclusão do personagem Benjamin Button, de que a vida é cheia de eventos que se sucedem e que não podemos controlar. Esses eventos, que deveriam sem controlados na aviação tamanha a tecnologia empregada nela, bem como o alto nível de capacitação daqueles que trabalham nela, muitas vezes, escapam de qualquer controle e, ao sabor do acaso, causam centenas de mortes, como as que o leitor encontrará em Perda Total.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Novos tempos, velhas práticas

Nos últimos tempos discutiu-se no Brasil o uso das sacolinhas plásticas pelos supermercados. No município de São Paulo elas chegaram até ser proibidas. Na ocasião, fiquei até ansioso pela possibilidade delas darem lugar aos antigos sacos de papel de cor marrom que hoje somente vemos em alguns filmes hollywoodianos antigos, mas a Justiça brasileira, lamentavelmente, barrou a morte das sacolinhas de plástico.

Recentemente circulando por um supermercado, deparei-me com um engradado cuja embalagem dos refrigerantes era de vidro. E não era qualquer refrigerante. Era a líder do mercado mundial, que patrocina inclusive as Copas do Mundo. Verifiquei que em alguns supermercados, inclusive, compra-se refrigerante de 1 litro da mesma marca. O cliente entrega o litro de vidro vazio e com alguns poucos reais retira um litro cheinho.

Lembro-me que lá nos idos da década de 1990, havia um supermercado em Osasco que vendia a granel diversos produtos como milho, açúcar, sal, grão de bico, arroz, feijão, farinha de trigo entre outros. O funcionário do supermercado pesava o quanto o cliente queria e ele armazenava ali mesmo nos frascos que trazia de casa.

Estamos vivendo em novos tempos em que o conceito de sustentabilidade passou a ser mais discutido. A preocupação em tornar o ambiente mais saudável para todos e deixa-lo, inclusive, conservado para as futuras gerações, tem trazido, em partes, o retorno de velhas práticas, como relatado nos episódios acima.

Acredito que dentro de pouco tempo com o recrudescimento da preocupação com o meio ambiente, as empresas, as pessoas, o governo e o comércio resgatarão ainda mais velhas práticas que são mais sustentáveis do ponto de vista ambiental, como já faz, por exemplo, uma pequena loja localizada em Londres.

Na Unpackaged (http://beunpackaged.com/) não é vendido nenhuma embalagem junto com os seus produtos (a venda é feita a granel) e os clientes levam seus próprios compartimentos para carregar todos os itens comprados. São frutas, verduras, legumes, condimentos, azeite, grãos, produtos de higiene pessoal e de limpeza, biscoitos, cafés e outra variedade de produtos vendidos da forma como vieram ao mundo, ou seja, sem plástico, isopor, alumínio nem nenhum outro material envolvendo-os. 

Espero, em breve, que a experiência londrina possa ser importada pelo Brasil. Aqui essa nova prática de consumo provocará nas pessoas não só uma mudança na forma de comprar, mas também uma reflexão sobre o consumo e sobre o meio ambiente.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Além de uma simples história infantojuvenil

A paulista Maria José Dupré é sempre lembrada pelo seu romance adulto "Éramos Seis", publicado em 1943 e que recebeu inúmeras adaptações para o cinema e para a televisão. A mais conhecida foi a novela homônima produzida e exibida no SBT entre maio e dezembro de 1994 e que particularmente eu considero a melhor novela produzida até então pela emissora de Sílvio Santos.

Mas a escritora também tem uma grande quantidade de livros publicados para o público infantojuvenil, destacando a série de livros cujo protagonista é um cachorrinho que rodou alguns locais brasileiros chegando, pasmem!, até a Rússia. Trata-se do cachorro Samba, personagem principal de seis livros, publicados entre as décadas de 1950 e 1970.

O auge da carreira da escritora ocorreu na década de 1940, época em que ela escreveu a maioria dos seus livros adultos e infantojuvenis. Foi nessa década que foi publicado o livro "A Ilha Perdida" que integra o bem sucedido projeto da série "Vaga-Lume", organizado pela Editora Ática.


Entre os escritores é quase unânime a ideia de quão difícil é escrever para o público jovem. Muitos têm na mente que as suas histórias obrigatoriamente deverão deixar alguma mensagem de ordem moral para os jovens, por exemplo, mas eu acredito que a literatura infantojuvenil, na sua essência, não tem essa pretensão, apesar de observar que isso ainda paira na cabeça de muitos escritores.

Deve-se transmitir uma mensagem ou não para o jovem, compreendo que é um desafio atingir esse público. Por isso, que de vez em quando, seleciono para a minha leitura, livros infantojuvenis na tentativa de analisar aspectos técnicos da história, como, por exemplo, como que o autor costurou a história, desenvolveu a trama, construiu os diálogos, os personagens, o contexto, as paisagens entre outros. Daí a minha leitura da obra "A ilha perdida".

O livro é uma aventura ambientada no interior de São Paulo, aonde duas crianças foram passar as férias e se encantaram por uma ilha misteriosa no meio de um caudaloso rio. Decidem, então, explorar a ilha por conta própria iniciando uma aventura emocionante, cheia de suspense, perigos e tensão, aspectos que permearão toda a história. 

Da metade da obra até o final, o leitor fica tenso e ansioso sobre o que acontecerá com as duas crianças. Sozinhas numa grande ilha deserta passam por situações bem complicadas. Essas situações são exploradas muito bem pela autora como forma de deixar várias mensagens de cunho moral para o leitor, como obediência aos mais velhos, respeito aos animais e vegetais e a preservação da natureza, temas que depois de 69 anos da publicação do livro ainda são discutidas em nossa sociedade. 

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Um escritor apaixonado pela pauliceia desvairada

Se algo devo ter fixado neste livro, deixado explícito, pelo menos tentei, foi a luta de um escritor, que não veio das camadas privilegiadas da sociedade, para manter seu ideal, apesar de todas as suas adversidades
Marcos Rey

É mais comum lermos biografias escritas por terceiros. Inclusive, há tempos existe uma polêmica sobre esse gênero literário, pois alguns escritores acabam por divulgar fatos, até então encobertos, da vida alheia de alguém sem ter sido autorizado para tal. Daí o início de batalhas judiciais contra o escritor, promovidos quase sempre pela família do biografado ou pelo próprio biografado. 

Fonte: Global Editora

Uma forma de evitar dissabores causados por biografias, muitas vezes escritas sem muito rigor na pesquisa sobre os fatos da vida de uma pessoa, é a própria pessoa se debruçar sobre o seu passado e produzir uma autobiografia e foi isso que o escritor Marcos Rey fez em 1997, quando lançou o seu livro autobiográfico O caso do filho do encadernador - romance de vida de um romancista, publicado pela Global Editora.

A obra, além de nos inserir na trajetória pessoal e profissional do escritor, nos possibilita entender o processo de chegada do rádio, da televisão e das agências de publicidade. Marcos Rey trabalhou nesses três ambientes e colecionou várias histórias que foram, mais tarde, matérias-primas para o desenvolvimento de vários de seus romances, contos e crônicas. 

Como estudante de jornalismo, apreciei o relato do escritor sobre os bastidores do rádio e da televisão. Desde sempre ambientes muito glamorosos, mas muito hostis para os redatores, que eram demitidos ao menor sinal de baixa audiência (parece que isso não mudou muito nos tempos atuais).

Quando admiramos um grande autor, temos por curiosidade saber quais os escritores que os influenciaram. Para descobrirmos, nada melhor que lermos uma biografia e com Marcos Rey não foi diferente. O escritor ao longo do livro vai nos informando os livros e os nomes dos autores que tiveram influência em sua formação. O que eu mais admirei foi a grande quantidade de autores estrangeiros em detrimento dos nacionais, estes, limitados a alguns poetas.

Tempos atrás pensei que o escritor era especialista em romances juvenis, mas com a leitura da presente autobiografia, descobri um autor profícuo e versátil, que transitou em praticamente todas as modalidades textuais pertencentes ao gênero narrativo, como o romance, a novela, o conto e a crônica. 

É um autor que eu estou ainda por descobrir e essa descoberta já foi iniciada com O caso do filho do encadernador, que traz no final várias páginas com todas as suas produções. Sem dúvida, se Marcos Rey ainda estivesse vivo, as últimas páginas da sua autobiografia a cada nova edição precisariam ser aumentadas pela rapidez com que ele escrevia e publicava novas e gostosas histórias, sempre tendo a cidade de São Paulo como pano de fundo, cidade que fez sua vida e pela qual se apaixonara.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

O universo de "Saramandaia" é tema de seminário


Em parceria com a Globo Universidade, e com o apoio do Centro de Estudos de Telenovela, a Escola de Comunicações e Artes da USP (ECA) promove, no dia 29 de agosto, o seminário O Realismo Fantástico em Saramandaia.

Com sua origem na obra do venezuelano Arturo Uslar Pietri e auge nas criações do colombiano Gabriel García Márquez, o realismo fantástico que inspirou Dias Gomes e diversos autores latino-americanos será tema do debate.

O evento conta com a participação do autor da atual versão de Saramandaia, Ricardo Linhares, do pesquisador Mauro Alencar e da professora Ana Lúcia Trevisan, da Universidade Presbiteriana Mackenzie. O jornalista Edney Silvestre fará a mediação do encontro.

As inscrições são gratuitas e podem ser feitas até o dia 28 de agosto pelo e-mail globo.universidade@tvglobo.com.br.

O credenciamento acontece a partir das 9h, no dia do evento. Serão fornecidos certificados aos participantes.

O Realismo Fantástico em Saramandaia
Data: 29 de agosto
Local: Auditório Paulo Emílio (prédio central da ECA)
Horário: 9h30

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Um romance infantojuvenil, mas também para os adultos

Ainda não sabia ler quando eu peguei pela primeira vez em minhas mãos o livro O mistério do cinco estrelas escrito por Marcos Rey.

A capa com um prédio e a sombra de uma mão empunhando uma faca nele com o rosto de um garoto assustado no primeiro plano, me chamou a atenção (e alguns dizem por aí que uma capa não faz muita diferença num livro). Ao folheá-lo, lembro-me que fiquei por vários minutos olhando as figuras e, a partir delas, fui elaborando a história em minha mente.



Anos depois, já alfabetizado, tive a oportunidade de ler o livro. A história me fascinou pelos elementos de suspense, ação, aventura e de investigação policial, tendo como pano de fundo a cidade de São Paulo. Marcos Rey sempre foi um apaixonado pela cidade e de uma forma ou de outra, na maioria dos seus livros, buscou homenageá-la. O seu amor por São Paulo era tão grande, que ao morrer, a sua esposa, do alto de um helicóptero, decidiu jogas as cinzas de Marcos Rey sobre a cidade que sempre o inspirou a escrever.

O livro é direcionado para o público infantojuvenil, mas de forma alguma isso é um impeditivo para os leitores mais maduros apreciarem a história, que se desenrola de uma forma que prende o leitor pela atmosfera de mistério construída pelo autor.

Tudo começa com um corpo encontrado por um jovem mensageiro num quarto de um famoso e rico hóspede de um luxuoso hotel de São Paulo. Mas de quem seria aquele corpo? Qual o motivo dele estar ali, debaixo da cama de um homem rico e famoso? Alguém acreditaria na história contada por um jovem mensageiro?

A partir daí a história se desenrola de forma impressionante. Leo, o novato mensageiro do hotel resolve investigar por conta própria e faz descobertas incríveis que tornam a sua vida um verdadeiro inferno. A história, então, torna-se bastante tensa e isso é levado até o fim dela. Sempre fica a sensação de que algo surpreendente vai acontecer. A ansiedade e a expectativa leva o leitor a sempre querer saber mais e isso faz com ele devore os capítulos.

No livro autobiográfico de Marcos Rey, O caso do filho do encadernador3ª ed., São Paulo: Global, 2012, num trecho (p. 219) o autor comenta sobre o livro:

"Dois meses após o lançamento de O mistério do 5 estrelas, Anderson [dono da editora Ática] me comunicava: a primeira edição esgotava-se, já iam rodar mais 100 mil exemplares. Segundo alguns jornais, foi o best-seller daquele ano de 1981, e até os dias de hoje vendeu um milhão de cópias.

Grande vendagem não assegura que um livro seja bom; muitas vezes prova até o contrário. Mas no meu caso o êxito apontou-me um novo caminho e uma grande fonte de prazer. Passei a escrever anualmente um romance para a juventude".

Nessas férias resolvi reler o livro e também ler a autobiografia do autor (O caso do filho do encadernador) comprada no estande da editora Global no último dia da Bienal Internacional do Livro de São Paulo ocorrida no ano passado.

Foi maravilhoso reler O mistério do 5 estrelas. A cada livro que nós relemos, acabamos descobrindo uma nova história e elementos presentes na narrativa que anteriormente não havíamos prestado atenção. Nessa releitura, pude perceber o quanto o autor escreve de forma ágil, prática e de fácil entendimento. É uma linguagem simples, mas profunda. Num livro de apenas 128 páginas, o autor conseguiu construir uma história envolvente, sem sobressaltos, sem idas e vindas e descrições desnecessárias de ambientes e dos personagens. 

Também li, em seguida, o livro O caso do filho do encadernador, que é a autobiografia do autor. Conheci um pouco mais da vida desse criativo e profícuo escritor paulistano, que somente conseguiu, enfim, viver de literatura num país que se lê tão pouco, quando já estava próximo dos seus 60 anos. 

Morreu em 1º de abril de 1999, aos 74 anos e deixou uma grande variedade de outros romances adultos e infantojuvenis, crônicas e contos que eu pretendo ler. Enfim, é um escritor que ainda eu quero descobrir.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

As telenovelas e as suas influências na sociedade: exemplos práticos

O desenvolvimento da comunicação de massa ao longo da história está atrelado ao desenvolvimento dos meios técnicos. A cada invenção tecnológica ocorreu um aumento do poder de comunicação do homem. Foi assim com o surgimento da imprensa, do rádio, da televisão e da internet, meios que ampliaram o espectro de seus receptores e possibilitaram cada vez mais uma imensa quantidade de informações circularem. Esses meios foram chamados de massa, justamente pelo poder de atingir uma grande quantidade de pessoas, a denominada sociedade de massa, que busca, segundo SANTOS (2010, p. 46), "nesses veículos de comunicação o conhecimento dos fatos da atualidade, diversão, educação, evasão de seus problemas, participação nas decisões etc., enquanto se torna, também audiência e potencial consumidor dos produtos anunciados.".

Vale lembrar que majoritariamente, de acordo com SANTOS (2010, p. 46), "os meios de comunicação de massa pertencem a empresas que produzem e veiculam informação de cultura e lazer para uma grande quantidade de consumidores, que podem se concentrar em uma cidade, em um país ou até em continentes diferentes. Essas empresas de comunicação obtêm lucro com a inserção de anúncios publicitários (...) Quanto maior o número de receptores, maior o lucro auferido".

Nesse artigo, iremos analisar a televisão, que é um veículo de comunicação de massa que conseguiu conjugar, de acordo com SANTOS (2010, p. 51), "características de outros meios de comunicação de massa, como a imagem em movimento (do cinema), o som (do rádio), o texto jornalístico (do jornal), a música, a publicidade e a dramaturgia inspirada no teatro ou adaptada da literatura". Foi com a dramaturgia na televisão - chamada de teledramaturgia - que tivemos a criação de um gênero televisivo de maior sucesso no país: a telenovela. Segundo OGURI; CHAUVEL; SUAREZ (2009, p. 39), "No Brasil, a Rede Globo de televisão se notabilizou por essa prática na produção de suas novelas. Atingindo diariamente cerca de 40 milhões de espectadores, as telenovelas são um dos maiores fenômenos da cultura de massa brasileira" além de se tratarem como valorizado produto de exportação. Segundo projeções da Globo, no começo dos anos 2000 as novelas comercializadas pela emissora foram assistidas por cerca de 70 milhões de espectadores anualmente no exterior (REDE GLOBO, 2008).

No final da década de 1960, a Rede Globo consolidou e industrializou o novo gênero. Segundo Alencar (2002), a rede foi responsável pela forma brasileira da telenovela e pela sua transformação em produto de consumo nacional. A empresa imprimiu uma série de mudanças no processo produtivo da telenovela, instaurando, por exemplo, a divisão do trabalho, com a criação de departamentos responsáveis pelas diferentes etapas da produção (roteiro, direção, figurinos, cenários, iluminação, sonoplastia etc.). A emissora investiu ainda no treinamento e na formação dos profissionais que atuavam nesses departamentos, buscando constituir um corpo de especialistas que soubessem "fazer televisão" e não mais apenas produzir "teatro, cinema, rádio e literatura 'na' televisão".

Em 2008, a TV Globo desponta como a maior rede de televisão brasileira, contabilizando cinco emissoras próprias (situadas no Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Recife e Brasília) e 131 afiliadas. A empresa, que foi fundada em 1965 por Roberto Marinho e atualmente emprega cerca de 8 mil funcionários, integra as Organizações Globo, o maior conglomerado de mídia, comunicações e entretenimento da América Latina.

Segundo dados fornecidos pela empresa (REDE GLOBO, 2008), a cobertura da Rede Globo em território brasileiro alcançava 98,4% dos municípios do país. Sua abrangência também pode ser medida na comparação com outros países: a empresa detém a segunda maior audiência mundial no horário nobre (atrás apenas da rede norte-americana CBS) e seus produtos são exportados para 130 países.

Tamanha a capilaridade em todo o território nacional (e até internacional!) e a profissionalização na produção de programas, principalmente telenovelas, tornaram tanto programação da Rede Globo e o seu produto telenovela algo que influencia o comportamento dos brasileiros de várias classes sociais. Nesse sentido, estudos do Banco Interamericano de Desenvolvimento mostram que as telenovelas têm influenciado o comportamento dos brasileiros a longo prazo. As variações na taxa de natalidade e no número de divórcios no país nas últimas décadas, por exemplo, podem ter como uma de suas várias causas o modelo das famílias retratadas nas novelas televisivas. Ao apresentarem núcleos familiares com poucos filhos e homens e mulheres, que mesmo separados ou divorciados, levam uma vida feliz, as novelas estabelecem referências de comportamento que, segundo esses estudos, influenciam os seus telespectadores. 

Vale ressaltar também algumas críticas negativas de alguns teóricos que apontam os defeitos da cultura veiculada para as massas, tais como: o incentivo ao consumo, a distorção ou manipulação política, a tendência ao escapismo, a espetacularização dos fatos, o uso de estereótipos e clichês, o moralismo e o maniqueísmo e a criação de modismos (SANTOS, 2010). Todos esses pontos encontramos, em diferentes graus, nas produções das telenovelas produzidas e veiculadas pela Rede Globo. Para exemplificar dois desses pontos (incentivo ao consumo e a criação de modismos), analisaremos alguns acontecimentos recentes atrelados à exibição das novelas Salve Jorge e Amor à Vida e que reafirmam o quanto esse produto televisivo influencia a sociedade de massa. 

Uma reportagem exibida no dia 05/04/2013 no jornal matutino Bom Dia São Paulo, da TV Globo, exemplifica bem o impacto que a novela Salve Jorge causou na vida das pessoas. A reportagem mostra o aumento das vendas, no comércio paulistano, dos apetrechos, das bolsas e do figurino utilizado por uma das personagens da trama. Em um dos pontos da matéria, a repórter ao se referir ao cinto utilizado pela personagem, disse que “uma semana depois da novela, já estava à venda aqui [na loja]”. Isso é um exemplo da criação de moda e de tendências que acabam por alavancar o consumo.


Outra reportagem publicada no portal UOL (Universo OnLine) com o título “Casal ferido em acidente de balão viajou à Turquia por causa da novela ‘Salve Jorge” é outro exemplo da influência das telenovelas na vida das pessoas. Devido à história da telenovela se passar na Turquia, houve um aumento do interesse dos brasileiros em conhecer a Turquia, segundo Marco Ferraz, presidente da Braztoa (Associação Brasileira das Operadoras de Turismo). De acordo com ele, “aumentou bastante, da mesma forma como aumentou na ocasião da novela da Índia [‘Caminho das Índias’] e do Marrocos [‘O Clone’, também escritas por Glória Perez]. Sempre que uma novela da Globo mostra um determinado país, principalmente no horário nobre, cresce a procura por aquele destino”.

Vale ressaltar que o casal de comerciantes de São Paulo que se feriu na Turquia entre outros oito brasileiros num acidente de balão na Capadócia, na região Central da Turquia, decidiu viajar depois de ver imagens do local da novela “Salve Jorge”, exibida pela TV Globo até o dia 17/05. O acidente resultante do choque entre dois balões ocorreu por volta das 6h do dia 20/05 e que além de deixar vários feridos, provocou a morte de três brasileiras.

O último exemplo se refere à telenovela “Amor à Vida” que chegou para substituir a “Salve Jorge” na faixa das nove. A novela começou a ser exibida a partir do dia 20/05, ou seja, há pouco tempo e já está influenciando o comportamento das pessoas, segundo um exemplo retirado da coluna que a jornalista Mônica Bergamo tem no caderno Ilustrada do jornal Folha de São Paulo. Segundo texto publicado no dia 4 de junho de 2013, “uma cena da novela das nove ‘Amor à Vida’, em que o vilão gay Félix (Mateus Solano) foi pego pela mulher, Edith (Barbara Paz), almoçando com outro homem no Shopping Cidade Jardim, em São Paulo, tem levado fãs da novela ao local. A gerente do Nonno Ruggero conta que clientes chegam pedindo para se sentar na ‘mesa do Félix’”.

Por esses exemplos citados acima retirados de notícias veiculadas diariamente pelos mais diferentes meios (isso também mostra o quanto a imprensa necessita divulgar notícias sobre as novelas para garantir a audiência dos seus leitores), é possível uma análise, mesmo que superficial, da influência que a televisão e o seu produto de maior sucesso, que são as telenovelas, causam nos seus espectadores. Se esses impactos são positivos ou negativos, isso demanda um estudo mais aprofundado desse fenômeno. Para não incorrer em análises mal feitas, um primeiro caminho é seguir a “dica” dada por SANTOS (2010, p. 59) que, segundo ele, “o estudo da cultura de massa requer do pesquisador uma visão crítica, mas não preconceituosa desse fenômeno complexo”.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERGAMO, M. Folha de São Paulo, São Paulo, 04 jun. 2013. Ilustrada, p. E2.

OUGURI, L. M. B.; CHAUVEL, M. A.; SUAREZ, M. C. O processo de criação de novelas. Revista de Administração de Empresas. São Paulo, v. 49, n. 1, p. 38-48, jan./mar. 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-75902009000100006>. Acesso em 9. mai. 2013.

REDE GLOBO. TV Dados 2008. Rio de Janeiro, 2008.

SANTOS, R. E. 
As teorias da comunicação - Da fala à Internet. 3 ed. São Paulo: Paulus, 2010.

sábado, 11 de maio de 2013

Cine Agrária apresenta "O veneno está na mesa"


O Programa de Pós-Graduação em Geografia Humana e o Laboratório de Geografia Agrária convidam para o Cine Agrária, que apresentará o filme "O veneno está na mesa", na quarta-feira, 15 de maio, às 18h, no Auditório da Casa da Cultura Japonesa.

Após a exibição haverá debate com a participação do diretor do filme, Silvio Tendler e a professora do Departamento de Geografia FFLCH/USP, Profa. Dra. Larissa Mies Bombardi.

A atividade é gratuita e aberta aos interessados, sem necessidade de inscrição.



O Auditório da Casa de Cultura Japonesa fica dentro da Cidade Universitária da USP, em São Paulo, na Av. Prof. Lineu Prestes, 159.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Os bastidores da polícia e os bastidores de um crime brutal

O trabalho como investigador de polícia durante alguns anos possibilitou a Roger Franchini entender o ambiente hostil presente dentro das delegacias e departamentos que constituem a Polícia Civil do Estado de São Paulo. Somente quem vivenciou esse universo poderia descrevê-lo de uma forma tão detalhada como a que aparece no livro Richthofen - O assassinato dos pais de Suzane, publicado pela Editora Planeta em 2011.

Ao longo das 192 páginas, temos contato com uma polícia que apenas conhecemos pela televisão ou quando vamos até uma delegacia fazer um boletim de ocorrência. Franchini nos traz a visão de outra polícia, recheada de trambiques e troca de favores. Mas o foco do livro não é sobre os bastidores da polícia paulista e sim sobre o assassinato do casal Richthofen, que preencheu por longo tempo as páginas policiais dos jornais.

O livro é uma ficção baseado em fatos reais, no caso, o crime cometido pela filha mais velha do casal, Suzane, e os irmãos Cravinhos. Apesar de ser uma ficção, a todo o momento parece que eu estava lendo um livro-reportagem, algo que narra o mais breve possível da realidade um fato ocorrido. Essa impressão ocorre porque o livro contou com uma extensa pesquisa antes de ser escrito. Vale lembrar que o autor teve acesso aos autos do processo, que é algo público, mas cujo cidadão comum não tem paciência com a burocracia para acessá-lo e o traquejo jurídico para lê-lo e interpretá-lo.

A leitura desenvolve-se de forma agradável devido à forma que o autor escreve: com gírias utilizadas pelos policiais e pelos cidadãos comuns, pela descrição das cenas que envolvem o relacionamento conturbado que Suzane tinha com os seus pais e o relacionamento dela com os irmãos Cravinhos. 

Capítulo a capítulo vamos entendendo um pouco da vida de Suzane, da família Richthofen e da família Cravinhos, até tudo se entrelaçar e culminar no assassinato brutal dos pais de Suzane descrito no último capítulo que, para mim, é o melhor capítulo do livro. Eu que gosto de livros de terror e de suspense, a cena descrita magistralmente pelo autor me colocou dentro do quarto do casal, como se eu fosse um cúmplice dos criminosos, além de ter me deixado angustiado e horrorizado com tudo aquilo que ocorreu na noite do dia 31 de outubro de 2012.

Pela qualidade do livro, fiquei ansioso em conhecer os outros três escritos pelo autor, muito bem comentados nas redes sociais: Ponto Quarenta - A Polícia Civil de São Paulo para leigos, Toupeira - A história do assalto ao Banco Central e Esquartejado - A investigação do assassinato do executivo japonês, sendo o último livro, lançado no final do ano passado.

quarta-feira, 27 de março de 2013

Uma introdução à indústria cultural



Talvez você nunca tenha tomado conhecimento da expressão indústria cultural, mas sem dúvida, você faz parte dela ao ser consumidor dos vários produtos produzidos por ela.  É justamente essa tomada de consciência por parte das pessoas, que propõe o livro Indústria Cultural, escrito pelo Prof. Dr. Marco Antônio Guerra e pela Prof.ª Dr.ª Paula de Vincenzo Fidelis Belfort Mattos, ambos da Universidade São Judas Tadeu, instituição que também fez a publicação do livro.

A obra, de 55 páginas, configura-se no todo uma introdução ao tema da indústria cultural, mas acredito que a ideia dos autores foi mesmo apenas introduzir o leitor no assunto, despertando-o para uma realidade que muitas vezes ele desconhece.

O uso de uma linguagem simples, com citações de alguns teóricos para fundamentar as ideias dos autores e um texto recheado de exemplos, possibilita de forma descomplicada o entendimento de qualquer leitor sobre a indústria cultural, que ao final do livro, terá plenas condições de refletir e criticar sobre ela.

Ao longo do livro, o Prof. Guerra e a Prof.ª Mattos lançam algumas críticas negativas à indústria cultural, mas evitam conduzi-la a um papel de vilã. Também há críticas positivas. 
Esses contrapontos subsidiam o leitor a chegar a uma reflexão e uma conclusão, que cabe essencialmente a ele, já que ao final do livro, não há a conclusão pelos autores de tudo o que foi discutido. Se a indústria cultural é boa ou é ruim, isso carecerá da reflexão de cada leitor.

O livro é dividido em seis capítulos.
Antes do primeiro, temos uma brevíssima introdução em forma de tópicos, colocam alguns conceitos importantes para que o leitor comece a entender os mecanismos da indústria cultural. Conceitos como indústria cultural, coisificação, midicult e outros aparecem nessa parte do livro.

No primeiro capítulo, Cultura e Indústria Cultural, os autores trazem primeiramente o conceito de cultura e discutem a indústria cultural como produtora de cultura com o objetivo de se alcançar e conquistar mercados. Também há a discussão sobre a validade da visão maniqueísta que muitos têm da indústria cultural. Segundo os autores "existem produções que não se ligam à indústria cultural e nem por isso possuem qualidade de repertório ou estética. Não é o distanciamento da indústria cultural que vai possibilitar a qualidade do produto cultural". Os autores concluem o capítulo informando que "[...] ao se pensar em indústria cultura é necessário que não se perca de vista o questionamento de até que ponto é ruim e até que ponto é bom este processo".

No segundo capítulo, A Indústria Cultural veio para ficar? há a discussão da abrangência da cultura de massa e a possibilidade de tudo que existe ser coisificado e, assim, se tornar um produto para ser vendido no mercado. Por último, se discute a cultura como instrumento capitalizável, ou seja, com potencial enorme dela reverter dinheiro para a burguesia. Os escritores concluem o capítulo da seguinte forma "A burguesia só se interessa pela cultura, quando percebe que é capitalizável. E, para que funcione, é necessário estendê-la a um maior número possível de pessoas. Adquirir cultura dá status e reconhecimento de poder, principalmente com relação a objetos raros e valiosos".

O terceiro capítulo, Indústria Cultural e Mídia, discute-se a relação entre a indústria cultural e as mídias que foram surgindo ao longo do tempo. Segundo os pesquisadores, "Com a Revolução Industrial e os mecanismos de reprodução é que surge o conceito de mídia, pela necessidade de estimular o consumo. A indústria cultural estará associada a essa informação". As mídias analisadas são os jornais/folhetins, rádio, cinema e televisão. No final do capítulo há uma análise sobre o cinema brasileiro e sobre as novelas brasileiras enquanto produtos da indústria cultural.

O quarto capítulo, Verdades e Mentiras sobre o Midicult, deteve-se na análise do midcult, que é diferente do masscult por trazer elementos da cultura superior. Porém, a cultura superior nesse caso é diluída, transformada e facilitada para ser consumida. De acordo com os autores, "o midicult propõe 'o conhecimento acessível a todos', e a indústria cultural cria formas para que isto se concretize". Com inúmeros exemplos, Guerra e Mattos deixam bem claros o entendimento desse fenômeno tão bem explorado pela indústria cultural para alavancar somas cada vez maiores de lucros.

No penúltimo capítulo, Anos 70 no Brasil - Estado, Cultura e Indústria Cultural, os autores abordam um dos períodos mais difíceis por qual o Brasil passou nas últimas décadas, que foi a Ditadura Militar. Junto com esse sistema de governo, veio à censura à arte, à imprensa e às manifestações públicas visando impedir o registro das interpretações da cultura brasileira daquele momento. Isso fez com que os artistas no momento da criação, se utilizavam de subterfúgios para que as suas obras fossem aprovadas pelo órgão censor. Nesse capítulo foram analisados a música, o cinema e a literatura, enquanto formas de arte que tiveram que se reinventar para passaram pelo crivo da censura.

No último capítulo, Um uso consciente de Indústria Cultural - A Tropicália temos a análise do movimento tropicalista surgido no Brasil no final da década de 1968. O movimento abrangeu várias manifestações estéticas e pretendia uma revolução de costumes e de comportamento. Extrapolou o campo da música, inserindo-se no campo ideológico, da moda e de outras manifestações artísticas. Uma das suas intenções era além de fazer uma crítica, considerada leviana por alguns, ao regime militar, resgatar as ideias do movimento antropofágico das décadas de 1920 e 1930. Num primeiro momento configurou-se contra a indústria cultural (pelo resgate a uma cultura puramente nacional, recusando a aceitar elementos estrangeiros), mas num segundo momento, o movimento utilizou-se da própria indústria cultural para disseminar toda a arte defendida por eles. Por isso que nesse capítulo, há a afirmação que o Tropicalismo fez um uso consciente, "um bom uso" da indústria cultural para levar a todas as pessoas a sua ideologia, a sua estética e claro, o seu protesto.


A leitura do livro é essencial para começarmos a entender o fenômeno da indústria cultural e a partir daí, termos condições de sabermos como lidar com ele, pois o seu grau de influência na vida da sociedade é muito grande. Recomendo a leitura do livro principalmente pelos estudantes dos cursos de Publicidade e Propaganda e Jornalismo.

Os publicitários precisam entender o funcionamento dessa indústria que movimenta bilhões de dólares para que eles possam lançar produtos que também façam parte dela, já que o retorno financeiro é algo quase garantido. Já os jornalistas precisam conhecê-la também, haja vista que muitas das modinhas e comportamentos da sociedade são frutos da indústria cultural que com a sua força brutal, homogeneíza gostos literários, musicais, entre outros.

quinta-feira, 7 de março de 2013

Lançamento do livro "Pantanal na linha-d'água"



O novo livro fotográfico da National Geographic Brasil, Pantanal na Linha d’Água, traz imagens do fotógrafo Luciano Candisani, que privilegiou composições e luzes capazes de mostrar a importância do ciclo das chuvas para a vida no Pantanal. As fotos foram produzidas em mais de um ano. Grande parte do tempo de produção, o fotógrafo ficou imerso em águas rasas e turvas, em ambientes dificilmente frequentados pelas câmeras em geral. O lançamento terá exclusividade de ser na Fnac. Imperdível!

terça-feira, 5 de março de 2013

Palestra - Romances estruturados para o mercado editorial

A Livraria Martins Fontes Paulista disponibiliza todo mês uma programação muito boa para quem curte literatura.
Da programação disponível para este mês, pincei um evento muito importante para os escritores iniciantes. Conheço o palestrante e tenho certeza que a pessoa que participar não irá se arrepender. Agora, corra para fazer a sua inscrição, já que as vagas são limitadas.

PALESTRA - ROMANCES ESTRUTURADOS PARA O MERCADO EDITORIAL
Com Felipe Colbert
INFO: 17/3 (domingo), das 14h às 18h
Apoio: Novo Século

Todos os dias centenas de pessoas encaminham seus manuscritos para as editoras na esperança de que seus livros sejam publicados. Mas você sabe exatamente se o seu livro atende a todas as exigências do mercado? Ele foi bem estruturado? Tem qualidades suficientes para interessar a um editor? 
Diferente do que muitos pensam, um livro não é feito somente com uma boa história e uma revisão competente. É preciso mais do que isso, e os segredos não estão tão escondidos quanto você pensa. 
É com este e outros conceitos que você entenderá o que o mercado editorial espera de um autor, terá conhecimento sobre as principais técnicas internacionais de estruturação de textos e construirá um documento que o auxiliará na apresentação do seu manuscrito.
Vagas limitadas! Inscrição: auditorio@martinsfontespaulista.com.br

BIO: Autor de três livros e especialista em estruturação de romances, FELIPE COLBERT possui trabalhos publicados no Brasil e na Europa. Atualmente, além de escrever e publicar seus livros, dedica-se a trabalhar textos ficcionais de novos escritores. Com visão profissional e ímpar, tem como meta potencializar a possibilidade de publicação destas obras. Dentre as funções adquiridas, as de parecerista crítico e coach, utilizando-se de técnicas internacionais de estruturação de textos. O autor também é presente em palestras e organiza workshops. Carioca, vive na cidade de São Paulo com esposa e filho. 

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Uma nova luz a "Tragédia da Piedade"


Depois que eu assisti novamente no ano passado a minissérie Desejo, produzida e exibida pela Rede Globo no começo dos anos 1990, despertou-me o desejo de conhecer mais profundamente a vida e a obra do escritor Euclides da Cunha, as pessoas que fizeram parte da sua curta vida, bem como entender melhor o episódio que levou a sua morte, chamado de "Tragédia da Piedade". Para tanto, nada melhor que ler um livro escrito por uma historiadora, e não é qualquer historiadora, trata-se da Prof.ª Dr.ª Mary Del Priore.

Os historiadores possuem o preparo de realizarem, com maestria, pesquisas históricas, escarafunchar documentos históricos e refazerem, com sucesso, o passado. E isso não foi diferente em Matar para Não Morrer - A morte de Euclides da Cunha e a noite sem fim de Dilermando de Assis, Ed. Objetiva, que conta com uma ampla pesquisa engendrada pela professora, para trazer mais detalhes sobre a tragédia que abalou o Brasil no início do século XX.

Analisando a bibliografia presente no final do livro, dá para termos uma ideia do trabalho que a professora teve para reunir as informações e elaborar o livro, que traz não só a história da morte do escritor Euclides da Cunha, como detalhes da sua conturbada vida com sua esposa,  Ana Cunha, os seus filhos e os irmãos Dinorah e Dilermando de Assis.

Mas o foco do livro é mesmo a vida do algoz de Euclides da Cunha, o general Dilermando de Assis, jovem que teve um relacionamento com a mulher do escritor culminando numa tragédia que vitimou o autor da obra prima "Os Sertões".

Ao longo do livro, a historiadora também traz acontecimentos nacionais e internacionais contemporâneos a história, que se passa no final do século XIX e início do século XX. Além disso, há a descrição de costumes da época, da política nacional, dos personagens de grande relevância nacional e, principalmente, as características de um Rio de Janeiro que estava num efusivo processo de urbanização.

A professora Del Priore não escreveu o livro para "limpar a barra" de Dilermando, tentando pelo seu texto inocentá-lo do crime que comoveu o país na época, mas sim, fazer um estudo sobre quem foi o algoz da família Cunha e deixar o julgamento para cada leitor, mas algo deve ficar claro. 

O ato tresloucado de Euclides, que foi em busca de Dilermando disposto a matar ou morrer, foi um espelho da sociedade vigente naquela época, algo comum, onde a honra era lavada com sangue. Euclides, não foi exceção numa época em que outros milhares de homens pegaram em armas para tentarem limpar os seus nomes.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Inspeção veicular

O início do governo do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, quase começou com uma baixa na pasta de Verde e Meio Ambiente por causa da famigerada inspeção veicular. O prefeito, procurando cumprir com o prometido na campanha, manifestou o seu interesse de não mais cobrar a taxa de inspeção veicular dos munícipes – hoje no valor de R$47,44 – e a cada dois anos, obrigar os veículos com mais de cinco anos de uso a se submeterem a inspeção. Essas ideias foram totalmente refutadas pelo vereador Roberto Tripoli e pelo seu partido, o PV (Partido Verde) que havia sido o escolhido para assumir a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente. Com a sua desistência, foi escolhido o vereador Ricardo Teixeira (PV), mas dias antes da posse do prefeito, também sinalizou desistir do cargo, por discordar das ideias de Haddad referentes à inspeção veicular. Após reuniões Siqueira resolveu aceitar comandar a secretaria.

Os ambientalistas são contra o modelo que o novo prefeito de São Paulo pretende implantar no município. Alegam que, como em outras partes do mundo, a inspeção veicular deve continuar da forma que está, com a obrigatoriedade de todos os veículos passaram pela inspeção a cada ano e que ela deve ser cobrada.

Em partes, sou a favor que haja a inspeção veicular nos moldes do pensado por Haddad, pois um veículo com apenas cinco anos de uso dificilmente irá apresentar problemas com a quantidade de emissão de gases poluidores. Além disso, com a quantidade de impostos pagos por nós, em especial o IPVA (Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores), acredito que o governo tem capacidade financeira para isentar os proprietários dos veículos de pagarem uma taxa para passarem por uma vistoria. Já o tempo estipulado de a cada dois anos para que ocorra a inspeção, poderia ser alterado para cada um ano, da forma que está, devido a mudanças que podem ocorrer num veículo durante um ano de uso.

Deve-se ressaltar que além dos veículos paulistanos que percorrem o município, há uma frota flutuante de veículos vindos de outros municípios do estado e do Brasil que entram e saem de São Paulo. Esses, muitas vezes com problemas mecânicos alteram a atmosfera do município, contribuindo ainda mais para o já poluído ar de São Paulo. Portanto, num primeiro momento, defendo a inspeção veicular não só para os paulistanos, mas para todos os outros 644 municípios do Estado, ideia já aventada tempos atrás pelo atual secretário estadual do Meio Ambiente, Bruno Covas (PSDB).

Num segundo momento, deveria haver uma inspeção abrangendo todos os municípios brasileiros, pois, vale lembrar que a poluição não respeita limites de estados e, além disso, conforme preconiza a Constituição Federal em seu artigo 225 “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Farsantes & Fantasmas, de Antonio Carlos Olivieri

Acostumado a publicar livros paradidáticos e ficcionais infanto-juvenis, dessa vez o escritor Antonio Carlos Olivieri publicou pela Editora Record uma obra ficcional voltada para o público adulto. Trata-se do livro "Farsantes & Fantasmas", lançado em abril de 2012.


A obra é um romance policial escrito de forma divertida que conta os bastidores da produção editorial de um livro. Como todo livro do gênero policial, temos um crime, a figura de um detetive e um suspeito. Mas a tônica do livro não é essa, sendo que esse entrelaçamento entre o crime, o suspeito e o detetive, somente ocorre nos capítulos finais da trama. 

O pano de fundo da história é a vida de Moreira, mais especificamente o seu trabalho como ghost writer (escritor fantasma). Ele é um jornalista que trabalha para um inescrupuloso dono de uma editora, o Zé Augusto Pavão Lobo, e é a partir dessa relação que ocorre o desenrolar da história aonde outros personagens vão surgindo, tais como a sensual Lucila Napolitano, em que Moreira é contratado para "transformar" a sua tese de doutorado num livro; o delegado Lopes Cliff, um sujeito esquisito na aparência, mas infalível na resolução de crimes e o inescrupuloso e cafajeste analista psiquiátrico, Dr. Paul Mahda.

Pavão Lobo sempre contrata o Moreira para que ele escreva livros para sujeitos que possuem desejo de lançar uma obra, mas não tem competência para escrever sequer uma linha. Aproveitando-se disso, Pavão Lobo explora as suas vítimas, desejosas para serem reconhecidas como escritoras e, quem sabe, até ficarem famosas com uma vendagem espetacular dos seus livros. É nesse tipo de negócio que a Editora Pavão Lobo trabalha e tem o Moreira como funcionário número um.

Num desses trabalhos, Moreira conhece Lucila, por quem se apaixona loucamente e também o safado Dr. Paul Mahda, um psiquiatra considerado "das estrelas", por somente atender atrizes, top models, políticos entre outras celebridades. O Dr. Paul Mahda resolve escrever um livro, mas culpa a falta de tempo, que na verdade, conforme as conversas que Moreira tem com o psiquiatra para a produção do livro, percebe que é mais falta de competência dele do que a falta de tempo. A partir desse trabalho é que a vida de Moreira se torna um inferno, envolto numa complexa trama, surpreendente e sórdida, cujo desfecho seria inevitavelmente pontuado com violência e sangue (p. 16).

O livro é bastante atual nessa questão do mercado editorial em que muitos querem ser escritores, mas poucos têm condição de escrever sequer um parágrafo e daí recorrem ao artifício de escritores fantasmas contratado por editoras que somente querem ficar com o dinheiro das vítimas, não primando pela qualidade do livro.

Saliento também a escrita feita de forma satírica, cômica pelo autor, que deixa a história muito mais gostosa de ser lida e, além disso, ressalto o lugar escolhido para o desenrolar dos fatos, que é a cidade de São Paulo. Esse aspecto aproxima ainda mais o leitor, principalmente aquele que mora em São Paulo ou conhece a cidade. Isso leva o leitor a reconhecer os lugares e, inevitavelmente, a ser inserido dentro da história. Ele passa a sentir, a enxergar a sua presença dentro da trama. Bacana!

Acredito que a forma satírica que o escritor conduziu a história, no fundo, acaba tirando um sarro de uma situação muito preocupante nos dias de hoje, que é falta de ética das pessoas.  Creio que o leitor mais atento, rirá com vários trechos da história e também refletirá sobre o universo que o escritor critica no livro.

A leitura é bastante tranquila e rápida e a trama é entendida sem segredos. Isso se deve ao fato da experiência do escritor na formação de leitores, na escrita e na publicação de livros voltados para o público infanto-juvenil. Característica, essa, que implicou também no não aprofundamento dos personagens, tal qual se costuma ocorrer em romances direcionados ao público adulto, mas isso não tira a qualidade, de modo algum, da deliciosa história presente em "Farsantes & Fantasmas".