terça-feira, 25 de setembro de 2012

Dois interessantes eventos literários

Recebi do Instituto Superior de Educação Vera Cruz, que possui um curso bem interessante de pós-graduação Lato Sensu em Formação de Escritores, um convite para participar de mais um Diálogos Literários. Dessa vez o assunto é sobre o tema "Escrevi um livro. E agora?". Dentro desse tema, serão abordados outros assuntos, tais como o funcionamento do mercado editorial para literatura, as chances do escritor estreante, as alternativas de publicação e as perspectivas dos e-books e dos livros impressos.

A palestra ocorrerá amanhã no auditório da Livraria Cultura no Shopping Villa Lobos. Segue abaixo o convite.


Recebi também da Editora Companhia das Letras um convite para participar no próximo sábado, dia 29/09, do lançamento de seu novo selo "Boa Companhia". Haverá duas palestras e um bate-papo com a escritora Lygia Fagundes Telles. O evento ocorrerá na Livraria Cultura, do Conjunto Nacional, que fica na Av. Paulista.


quinta-feira, 13 de setembro de 2012

A Fantástica Fábrica de Chocolate, Roald Dahl

Quando falamos em A Fantástica Fábrica de Chocolate, logo vem à mente, para os mais velhos, o filme homônimo produzido em 1971 e que tinha o ator Gene Wilder como protagonista. Ele atuou como Willy Wonka, o dono da "fantástica fábrica". Em 2005 houve uma refilmagem dirigida por Tim Burton. Dessa vez, o ator Johnny Depp ficou com o papel principal, ou seja, o de atuar como o excêntrico empresário Willy Wonka.

Muitas pessoas não sabem, mas por detrás dessas produções cinematográficas há uma obra intitulada A Fantástica Fábrica de Chocolate que foi lançada na década de 1960, pelo escritor britânico, filho de noruegueses, Roald Dahl (1916-1990).


Roald Dahl fez sucesso com livros direcionados ao público infantil. Além da A Fantástica Fábrica de Chocolate, ele publicou em 1988 outro grande sucesso, Matilda, que em 1996 se tornou filme tendo como diretor Danny DeVito.

Confesso que eu conhecia somente o filme A Fantástica Fábrica de Chocolate, reprisado várias e várias vezes na televisão. Somente fui tomar conhecimento que o filme era baseado num livro, muito tempo depois, ao me deparar num sebo com um exemplar do livro.

A edição que eu li foi publicada pela Editora Martins Fontes, que nos brinda com um livro que contém ilustrações engraçadíssimas de Cláudia Scatamacchia. O livro é delicioso, não só por contar uma história que envolve o universo de doces e chocolates, mas pela maneira humorística, leve e agradável que Dahl conta a história de um excêntrico industrial que deseja abrir a sua mega indústria para visitação de cinco crianças.

Quem, quando era criança, nunca teve o interesse de descobrir como funciona uma fábrica e os segredos que elas escondem na fabricação de doces e chocolates? Pois bem, o livro nos coloca dentro da fábrica de chocolates Wonka, mas ela não é uma fábrica qualquer, ela é uma fantástica fábrica de chocolates.

Willy Wonka é um empresário do ramo de doces, mais especificamente de chocolates, que depois de ter fechado a sua fábrica e demitido todos os funcionários por suspeita de espionagem industrial, resolve reabri-la para visitação de cinco crianças, acompanhadas cada uma por até dois adultos. Mas como que ele selecionaria as crianças espalhadas pelo mundo todo? Por que Wonka deseja abrir a fábrica para visitação? Se a indústria está funcionando, quem trabalha nela se não há sinal algum de operário? Essas questões são respondidas no desenrolar da história.

Paralelamente a isso, há a história de um garoto muito pobre, Charlie Bucket, que capítulos antes é apresentado e capítulos depois tem a sua história entrelaçada incrivelmente com a de Willy Wonka.

O humor que há no texto é resultado em grande parte da excentricidade do personagem principal, Willy Wonka. Ele é um empresário com ideias mirabolantes, como chocolates que podem ser transportados pela televisão e chicletes que não perdem o gosto, por exemplo. Durante a visita a fábrica, temos contato com as suas invenções e os seus projetos malucos para doces e chocolates. Também conhecemos um pouco do seu temperamento, que parece ser bastante explosivo, mas convenhamos, quem aguentaria um grupo de crianças por um dia inteiro?

O desfecho da história nos leva a refletir que, de vez em quando, a obediência às orientações e regras, a "segurarmos" a nossa curiosidade e ouvirmos mais do que falamos, podem trazer bons acontecimentos para a nossa vida, a tal ponto que ela pode mudar drasticamente.

A leitura do livro é muito agradável e de fácil compreensão. É inevitável dar boas risadas com vários trechos, bem como com as ilustrações. Também o que é inevitável e o desejo que surge em nós, da mesma forma quando assistimos o filme, de degustar um bom chocolate.

Não conheço bem o estilo da escrita de Roald Dahl, pois para isso seria preciso eu ter contato com mais alguns dos seus livros, mas a obra que eu acabei de ler dá indícios de que o autor gosta de imprimir na sua narrativa uma característica mais cômica. Se tivermos como referência o filme Matilda, baseado no seu livro de mesmo nome acredito que o estilo de escrita de Dahl provoca mesmo nos leitores algumas boas risadas. Logo, logo terei mais certeza disso, porque no mesmo dia que eu adquiri o livro A Fantástica Fábrica de Chocolate, eu comprei o livro Matilda. Agora resta ler e observar se o escritor repete nele, que foi publicado bem mais tarde do que a fantástica fábrica, a sua característica humorística.

Ah! Verificando o catálogo da Editora Martins Fontes, descobri também que há uma continuação da A Fantástica Fábrica de Chocolate. Trata-se do livro Charlie e o grande elevador de vidro. Claro que eu já comprei e fico na torcida para que o livro chegue logo. Quero verificar o que aconteceu com o menino Charlie e o senhor Willy Wonka. Sem dúvida, novas emoções me aguardam.

Ah! Olha que coincidência! Hoje Roald Dahl faria 96 anos. Portanto, presto com essa minha humilde resenha uma homenagem a esse maravilhoso escritor, que encantou e continua encantando milhares de leitores por todo o mundo.

Se você quiser conhecer todos os títulos desse grande autor disponíveis no catálogo da Editora Martins Fontes, clique aqui.

sábado, 1 de setembro de 2012

O que é a vida?


Ontem presenciei um acidente envolvendo uma motocicleta e um automóvel. Faltavam apenas dez minutos para a uma da tarde, quando a minha atenção foi desviada para um forte estrondo vindo do meu lado esquerdo. Estava em pé no ponto de ônibus, olhando atentamente se via algum coletivo vindo em meio ao congestionamento que estava formado próximo ao início da avenida, já que ali também havia acontecido um acidente envolvendo um automóvel e um ônibus municipal.

Com o barulho, todos olharam para o lado lastimando a ocorrência de mais um acidente. Percebi que a lástima não era em relação às vidas humanas que estavam em jogo naquele momento e sim, na possibilidade do congestionamento aumentar naquela avenida.

Sem pensar, corri em direção ao acidente. Não sei o porquê até agora. Curiosidade? Sentimento de pena com os envolvidos? Não sei responder, somente cheguei próximo e avistei na esquina da Avenida São João com a Al. Nothmann um corpo estendido no chão. Os braços estavam abertos. Um líquido rubro saía da cabeça e escorria num filete em direção à sarjeta. A cor da pele, pálida, gélida das mãos, da testa e da nuca, únicas partes que eram visíveis evidenciava que a morte havia chegado para aquele jovem motoboy. O corpo estava inerte.

Perto dele, um capacete todo arranhado. Num canto da rua, um pé de um tênis bem surrado. O outro estava jogado a alguns metros do corpo. Também um pequeno baú que os motociclistas costumam fixar atrás da moto para poder guardar alguns pertences, estava todo amassado jogado de cabeça para baixo na calçada.

Poucos metros do falecido havia um Fiat Idea com o pisca alerta ligado e uma jovem japonesa com uma criança no colo chorava copiosamente dizendo aos quatro ventos que ela não tinha culpa do acontecido. A moto do rapaz jazia debaixo do veículo, toda retorcida. O cheiro do combustível que vazava da moto e descia avenida abaixo completava o aroma amargo daquele início de tarde.

Mais pessoas se aglomeravam. Algumas concomitantemente ligavam para o serviço de resgate, enquanto outras telefonavam para a polícia. Outras conversavam com a japonesa, dizendo que haviam presenciado o erro tão grotesco causado pelo falecido e, de forma oportunista, diziam uma espécie de "bem feito" para ele. Ouvi de um comerciante próximo, que o motociclista havia feito uma conversão errada, batendo de frente com o carro. Ele foi arremessado direto para a dura e suja calçada enquanto o carro caminhou por alguns metros com a moto debaixo dele.

Enquanto o resgate não chegava, alguns transeuntes pararam para ver o estado deplorável do motociclista e contribuíram no pequeno debate inoportuno que se formou ali sobre a postura dos motoboys na cidade de São Paulo, até que inesperadamente uma ambulância surgiu do meio do congestionamento e estacionou bruscamente ao lado do corpo. Mas não era uma "ambulância oficial", dessas que a gente está acostumado a ver nas ruas e nos programas policiais, vermelha, com o logo do governo do estado ou da polícia militar. Era uma ambulância que, por acaso, estava passando ali naquele momento. Ela levava uma idosa cadeirante até um hospital para continuar um tratamento. Percebi que a sorte do motociclista começou a mudar a partir daquela chegada.

Rapidamente desceu do veículo uma enfermeira com alguns apetrechos na mão. O corpo do rapaz encontrava-se ainda imóvel, enquanto o sangue continuava escorrer pela calçada. Entre um comentário de um pedestre dizendo que "esse já era" e outro lamentando o trânsito impiedoso que a cidade se tornara, a enfermeira colocou uma espécie de pregador na mão do falecido. Depois de alguns "bips" do pequeno aparelho, a moça de branco deu um grito. O rapaz ainda estava vivo! Mas por pouquíssimo tempo, exclamou. Os batimentos, a pressão sanguínea e outros "índices" que diferenciam entre um ser estar vivo e outro morto, puderam ser interpretados por aquela profissional, que já correu para dentro da perua e trouxe um pequeno cilindro de oxigênio.

Entre feridas e muito sangue, ela conseguiu precariamente colocar a máscara no falecido (?) que, inacreditavelmente, após alguns poucos segundos, começou a ensaiar pequenos movimentos com as pernas e os braços. De bruços, consegui ver que a sua costela já "subia e descia", mostrando que o mesmo estava respirando. Pude perceber o alívio no rosto das pessoas ao redor, principalmente a da japonesa que naquele instante deixaria de receber o ingrato e triste título de homicida.

Mais alguns segundos se passaram e o rapaz que antes estava jogado na calçada, inerte, agora estava se mexendo, até com força, pois queria de qualquer forma se levantar. Movimentava as pernas e os braços e tentava tirar a máscara de oxigênio. Tudo isso acompanhados com intensos urros de dor. O seu grito abafado pela máscara, doía em meus ouvidos. Independente do que aquele rapaz fizera para estar naquela situação, tive naquele momento pena dele, muita pena. Era um ser humano como eu e, por um descuido, imprudência, erro, não sei mais o que, estava pagando um preço muito alto por aquilo que cometera.

Já havia se passados longos minutos do início da tragédia até que o resgate, esse sim oficial, representante do estado, chegou. O serviço não foi o dos mais difíceis, haja vista que o rapaz já estava um pouco mais calmo e a enfermeira havia adiantado o serviço, digamos, mais pesado, mas os seus gritos estridentes de dor ainda continuavam. Os bombeiros enfaixaram a sua cabeça, colocaram um colar cervical e transferiram-no para uma maca que foi colocada dentro da ambulância, que saiu correndo abrindo caminho por entre os carros.

Quem também passou mal com essa história toda fui eu. Sem almoço e a cabeça começando a doer por causa disso, as minhas pernas começaram a tremer por causa do nervoso e da tensão de toda a cena descrita acima. A minha pressão começou a baixar e senti que logo iria desmaiar. Para evitar mais um susto naqueles que ainda se encontravam no local, encontrei na mesma calçada, um pequeno desnível, um degrau para a entrada de uma loja e fiquei ali sentado durante alguns minutos, enquanto o mal-estar teimava em não desaparecer.

Enquanto recuperava a cor do meu rosto (sempre que passo mal fico pálido) fiquei pensando sobre o havia ocorrido com aquele rapaz. Todos acreditavam que ele estava morto ou caminhando para a morte. Acho que ele já estava com um "pé" lá, pela gravidade da batida, pelo ferimento na cabeça aliado a demora do serviço de resgate. A sua vida parecia ter chegado ao fim de uma forma muito triste e violenta até que a sorte do rapaz se reverteu com a chegada do serviço médico "paralelo" e daí o que era para ser um final trágico, acredito que tenha sido um final mais satisfatório, mais bonito para todos, principalmente para o acidentado e para a sua família.

Fiquei pensando o que é a vida e quanto ela é algo simples, rápida, fugaz, um sopro. Minutos atrás aquele jovem obviamente estava em outro lugar, talvez conversando sobre os seus planos para o futuro com alguém, marcando um encontro com a namorada, brigando ou fazendo as pazes com alguma pessoa, resolvendo um problema, negociando um emprego novo, fechando a compra de um carro ou marcando um almoço com o seu filho ou mãe... E depois estava ali, estendido no chão... Morto, tudo acabado, tudo perdido, sem condições de consertar o que havia ficado para trás. Até que uma nova chance foi dada a ele. Não era a hora dele partir, pois a sua missão ainda estava incompleta.

Na correria cotidiana esquecemos que somos finitos, que possamos em alguns simples segundos deixarmos tudo para trás sem termos tempo e oportunidade de dizer o quanto a gente ama alguém ou dizer para alguém o quanto ele ou ela é especial para nós ou agradecer alguém por algo que fizeste a nós ou simplesmente para pedir perdão por algum deslize cometido. Se o presente não fosse algo importante na nossa existência, não teria esse nome de PRESENTE. Por isso devemos viver intensamente o hoje, o presente, o agora, para que, se ao dobrarmos uma esquina e a morte nos encontrar, possamos partir em paz, com a satisfação de que realmente aproveitamos a plenitude da vida, pois talvez não tenhamos uma segunda chance, como foi dada maravilhosamente ao motociclista.