quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Você quer mesmo ser jornalista?

Já escutei e li de muitos jornalistas diversas lamentações sobre a profissão, que iam desde as poucas vagas de trabalho, a existência de um exército de reserva causador dos achatamentos salariais, a carga horária desregrada e a estafa produzida por isso até a eliminação - por hora - da exigência do diploma para o exercício da profissão. Tudo isso comprovei no livro Jornalista, da série Profissões, publicado pela Publifolha.


O livro aponta somente percalços e deixa de lado os pontos positivos da profissão, aspectos que existem em todas as profissões ("os dois lados da moeda") e que deveriam ser abordadas pela obra. Nesse sentido, o livro transmite a ideia de que o jornalismo é somente uma área desgastante, mal remunerada e que qualquer um pode ingressar nela, pontos que eu concordo em partes.

Destaco a primeira parte do livro, que oferece um panorama histórico dos meios de comunicação (jornal, rádio, televisão e internet), bem como um breve histórico da profissão de jornalista no Brasil. Em poucas folhas que proporcionam uma leitura fluída devido ao emprego de um vocabulário simples, é possível o leitor conhecer um pouco mais sobre a história da profissão que ele poderá seguir.

Nos capítulos seguintes inicia-se o "terrorismo" contra a profissão, com textos que indicam o quanto é difícil e não valoroso trabalhar como jornalista. A trégua com o terrorismo somente acontece no último capítulo. Três conhecidos e importantes jornalistas contam as suas trajetórias pessoais e profissionais e nos oferecem um depoimento sobre a profissão, com um otimismo não encontrado nas páginas anteriores. O que é unânime nos três depoimentos é que a graduação de jornalismo é importante, mas não fundamental para a formação de um profissional. Outros aspectos têm um peso maior que aliado a um curso universitário farão a diferença para os que querem ser jornalistas. Destaco apenas dois: muita leitura (ela deve ser diversificada; jornais e revistas são essenciais!) e domínio de uma língua estrangeira (nem preciso comentar sobre a Língua Portuguesa, né?).

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

A esperança da mudança com a força de Zumbi

Se saíssemos numa rua ou numa avenida qualquer movimentada de um grande centro urbano, como a que existe em várias partes na cidade de São Paulo e perguntássemos para as pessoas o que elas desejariam para 20 de novembro de 2020, com certeza, a maioria não iria associar à data a comemoração do Dia da Consciência Negra. Talvez desejassem ter mais dinheiro, obter uma promoção no trabalho, conquistar o amor não correspondido. Outras mais atentas com os acontecimentos no Brasil perceberiam a data e diriam que aproveitariam o dia de feriado para descansar, relaxar. Por sua vez, outras iriam expor o seu desejo que em 2020 o feriado não fosse mais facultativo, ou seja, tornasse nacional com a adesão, portanto, dos 5.564 municípios brasileiros. Infelizmente, acredito que ninguém teria a consciência de avaliar corretamente a data e desejar, além dos seus anseios individuais, algo coletivo, para o bem comum, como uma sociedade mais justa em oportunidades econômicas, de educação, saúde, saneamento básico, cultura entre outros, para todas as etnias que formam o Brasil, principalmente a negra, cujo país tem uma dívida histórica por ter submetido os negros a uma vergonhosa escravidão que durou penosos 388 anos (abril de 1500 até maio de 1888).
Apesar do fim oficial da escravidão, ainda em pleno século XXI, acompanhamos pela imprensa e pelos dados fornecidos pelos órgãos oficiais do governo como o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que ela ainda existe. Muito menos perceptível que outrora, escamoteada pelo falso discurso e ideia de que a miscigenação brasileira é um sucesso, sendo até referência para o mundo, acredito que os negros ainda não estão plenamente libertos. Há outra escravidão em curso. É a escravidão da falta de oportunidades para os negros, alijados de acessarem o que é de direito de todos os brasileiros, apesar de vivermos num Estado livre e democrático.
A passagem da condição de escravos para libertos, em maio de 1888, não melhorou o quadro socioeconômico em que viviam os negros no Brasil. Mais de 100 anos após a libertação, os negros são o grupo socioeconômico mais pobre do país. Os dados demonstram que a situação de renda, educação, saúde e desemprego da população negra no Brasil é aviltante e revela os preconceitos e a marginalização aos quais ela está submetida, apesar de haver movimentos negros bastante atuantes, que lutam pelo fim dessa situação.
A instituição do Dia da Consciência Negra, criado por lei em janeiro de 2003, mas já adotado pelo movimento negro desde a década de 1970, deveria ser um dia em que todos os brasileiros não só descansassem os seus corpos e mentes da rotina diária, mas sim, um dia de conscientização e reflexão sobre a igualdade racial no Brasil, um país ainda manchado por diferenças e discriminações raciais.
Enquanto anualmente o dia 20 de novembro passar por nossas vidas de forma insignificante, sem merecer uma reflexão e dessa reflexão gerar uma ação para mudar o status quo do negro no Brasil, teremos que conviver, ainda, tristemente com manchetes estampadas nos jornais que denunciam a violência e a falta de oportunidades e perspectivas que o negro sofre no país.
O crescimento econômico brasileiro, que o coloca como a sétima maior economia do mundo, não tem se traduzido em melhorias na educação básica, imprescindível para que o país obtenha no futuro uma geração que tenha as suas mentes descolonizadas do preconceito e da intolerância racial e passem, a enxergar, o valor que a miscigenação tem para toda a sociedade brasileira. O crescimento do país, não somente na área econômica, depende dos esforços, da relação e da união entre negros, mestiços e brancos.
Espero que em 20 de novembro de 2020, nós já possamos ter encontrado o ponto de união entre a mestiçagem e a negritude para a formação de uma força capaz de mudar a história do negro no Brasil. Que a partir dessa data, essa força, imbuída pela força de Zumbi, que lutou até a morte pela cultura e pela liberdade do povo negro, possa, brevemente, conseguir dar de vez a genuína liberdade para o povo negro.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

O raio-x de três grandes acidentes aéreos brasileiros

Num trecho do filme "O curioso caso de Benjamin Button", o protagonista ao explicar o porquê da sua amada ter sofrido um acidente que lhe causou algumas fraturas e arranhões, chega à conclusão que devido ao encadeamento de "uma série de eventos e incidentes interligados que não se pode controlar" a moça sofreu o atropelamento. 

A conclusão do personagem acima se aplica a qualquer aspecto da vida, principalmente nos acidentes aéreos, cuja sucessão de vários acontecimentos interligados uns aos outros e que não se pode controlar ou muitas vezes se pode controlar, mas por algum motivo não é controlado, sempre acaba por resultar em grandes tragédias.

Por mais que a tecnologia existente e a capacitação dos profissionais que trabalham com aviação permitem que os erros praticamente não aconteçam, vez ou outra tomamos conhecimento que um erro gera outro, que gera outro, que gera uma sucessão e isso forma uma série de erros que culminam num acidente aéreo.

A série de acontecimentos ingratos que causaram três dos mais trágicos acidentes aéreos brasileiros pode ser observada no livro Perda Total, do escritor carioca Ivan Sant'Anna e publicado pela Editora Objetiva.
O livro disseca o que ocorreu na tragédia dos voos TAM 402 (31/10/1996 - 99 mortos), GOL 1907 (29/09/2006 - 154 mortos) e TAM 3054 (17/07/2007 - 199 mortos).

Ao longo das páginas, o leitor encontra uma miscelânea de termos técnicos que fazem parte da aviação, o que poderia deixar a leitura cansativa, mas isso não ocorre, pois com bastante didatismo, o autor explica cada termo, facilidade adquirida pela experiência dele como piloto amador e por ser um apaixonado pela viação.

Cada tragédia é narrada com uma riqueza de detalhes, resultado de uma pesquisa profunda junto aos inquéritos policiais e da força aérea brasileira, manuais dos aviões fornecidos pelos fabricantes e entrevistas com os familiares das vítimas. Por causa do grande número delas, o autor se restringiu a contar a história de apenas cinco vítimas de cada voo.

O diferencial de Perda Total é não ser uma obra que apenas relata como foram os acidentes e fornece frias estatísticas. O autor vai além disso. Fornece detalhes das tragédias. Conta minuciosamente o que ocorreu antes, durante e depois dos acidentes, com as transcrições das caixas-pretas, detalhes técnicos, relatos de testemunhas e a história de vida de algumas pessoas que estavam em cada voo.

Ivan Sant'Anna teve o cuidado de apurar cada informação e cada detalhe. Soube majestosamente dosar essas informações ao longo da sua escrita para não deixar a leitura tediosa. 

Após ler o livro, o leitor chegará à mesma conclusão do personagem Benjamin Button, de que a vida é cheia de eventos que se sucedem e que não podemos controlar. Esses eventos, que deveriam sem controlados na aviação tamanha a tecnologia empregada nela, bem como o alto nível de capacitação daqueles que trabalham nela, muitas vezes, escapam de qualquer controle e, ao sabor do acaso, causam centenas de mortes, como as que o leitor encontrará em Perda Total.