sexta-feira, 26 de abril de 2013

Os bastidores da polícia e os bastidores de um crime brutal

O trabalho como investigador de polícia durante alguns anos possibilitou a Roger Franchini entender o ambiente hostil presente dentro das delegacias e departamentos que constituem a Polícia Civil do Estado de São Paulo. Somente quem vivenciou esse universo poderia descrevê-lo de uma forma tão detalhada como a que aparece no livro Richthofen - O assassinato dos pais de Suzane, publicado pela Editora Planeta em 2011.

Ao longo das 192 páginas, temos contato com uma polícia que apenas conhecemos pela televisão ou quando vamos até uma delegacia fazer um boletim de ocorrência. Franchini nos traz a visão de outra polícia, recheada de trambiques e troca de favores. Mas o foco do livro não é sobre os bastidores da polícia paulista e sim sobre o assassinato do casal Richthofen, que preencheu por longo tempo as páginas policiais dos jornais.

O livro é uma ficção baseado em fatos reais, no caso, o crime cometido pela filha mais velha do casal, Suzane, e os irmãos Cravinhos. Apesar de ser uma ficção, a todo o momento parece que eu estava lendo um livro-reportagem, algo que narra o mais breve possível da realidade um fato ocorrido. Essa impressão ocorre porque o livro contou com uma extensa pesquisa antes de ser escrito. Vale lembrar que o autor teve acesso aos autos do processo, que é algo público, mas cujo cidadão comum não tem paciência com a burocracia para acessá-lo e o traquejo jurídico para lê-lo e interpretá-lo.

A leitura desenvolve-se de forma agradável devido à forma que o autor escreve: com gírias utilizadas pelos policiais e pelos cidadãos comuns, pela descrição das cenas que envolvem o relacionamento conturbado que Suzane tinha com os seus pais e o relacionamento dela com os irmãos Cravinhos. 

Capítulo a capítulo vamos entendendo um pouco da vida de Suzane, da família Richthofen e da família Cravinhos, até tudo se entrelaçar e culminar no assassinato brutal dos pais de Suzane descrito no último capítulo que, para mim, é o melhor capítulo do livro. Eu que gosto de livros de terror e de suspense, a cena descrita magistralmente pelo autor me colocou dentro do quarto do casal, como se eu fosse um cúmplice dos criminosos, além de ter me deixado angustiado e horrorizado com tudo aquilo que ocorreu na noite do dia 31 de outubro de 2012.

Pela qualidade do livro, fiquei ansioso em conhecer os outros três escritos pelo autor, muito bem comentados nas redes sociais: Ponto Quarenta - A Polícia Civil de São Paulo para leigos, Toupeira - A história do assalto ao Banco Central e Esquartejado - A investigação do assassinato do executivo japonês, sendo o último livro, lançado no final do ano passado.