terça-feira, 27 de agosto de 2013

Um escritor apaixonado pela pauliceia desvairada

Se algo devo ter fixado neste livro, deixado explícito, pelo menos tentei, foi a luta de um escritor, que não veio das camadas privilegiadas da sociedade, para manter seu ideal, apesar de todas as suas adversidades
Marcos Rey

É mais comum lermos biografias escritas por terceiros. Inclusive, há tempos existe uma polêmica sobre esse gênero literário, pois alguns escritores acabam por divulgar fatos, até então encobertos, da vida alheia de alguém sem ter sido autorizado para tal. Daí o início de batalhas judiciais contra o escritor, promovidos quase sempre pela família do biografado ou pelo próprio biografado. 

Fonte: Global Editora

Uma forma de evitar dissabores causados por biografias, muitas vezes escritas sem muito rigor na pesquisa sobre os fatos da vida de uma pessoa, é a própria pessoa se debruçar sobre o seu passado e produzir uma autobiografia e foi isso que o escritor Marcos Rey fez em 1997, quando lançou o seu livro autobiográfico O caso do filho do encadernador - romance de vida de um romancista, publicado pela Global Editora.

A obra, além de nos inserir na trajetória pessoal e profissional do escritor, nos possibilita entender o processo de chegada do rádio, da televisão e das agências de publicidade. Marcos Rey trabalhou nesses três ambientes e colecionou várias histórias que foram, mais tarde, matérias-primas para o desenvolvimento de vários de seus romances, contos e crônicas. 

Como estudante de jornalismo, apreciei o relato do escritor sobre os bastidores do rádio e da televisão. Desde sempre ambientes muito glamorosos, mas muito hostis para os redatores, que eram demitidos ao menor sinal de baixa audiência (parece que isso não mudou muito nos tempos atuais).

Quando admiramos um grande autor, temos por curiosidade saber quais os escritores que os influenciaram. Para descobrirmos, nada melhor que lermos uma biografia e com Marcos Rey não foi diferente. O escritor ao longo do livro vai nos informando os livros e os nomes dos autores que tiveram influência em sua formação. O que eu mais admirei foi a grande quantidade de autores estrangeiros em detrimento dos nacionais, estes, limitados a alguns poetas.

Tempos atrás pensei que o escritor era especialista em romances juvenis, mas com a leitura da presente autobiografia, descobri um autor profícuo e versátil, que transitou em praticamente todas as modalidades textuais pertencentes ao gênero narrativo, como o romance, a novela, o conto e a crônica. 

É um autor que eu estou ainda por descobrir e essa descoberta já foi iniciada com O caso do filho do encadernador, que traz no final várias páginas com todas as suas produções. Sem dúvida, se Marcos Rey ainda estivesse vivo, as últimas páginas da sua autobiografia a cada nova edição precisariam ser aumentadas pela rapidez com que ele escrevia e publicava novas e gostosas histórias, sempre tendo a cidade de São Paulo como pano de fundo, cidade que fez sua vida e pela qual se apaixonara.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

O universo de "Saramandaia" é tema de seminário


Em parceria com a Globo Universidade, e com o apoio do Centro de Estudos de Telenovela, a Escola de Comunicações e Artes da USP (ECA) promove, no dia 29 de agosto, o seminário O Realismo Fantástico em Saramandaia.

Com sua origem na obra do venezuelano Arturo Uslar Pietri e auge nas criações do colombiano Gabriel García Márquez, o realismo fantástico que inspirou Dias Gomes e diversos autores latino-americanos será tema do debate.

O evento conta com a participação do autor da atual versão de Saramandaia, Ricardo Linhares, do pesquisador Mauro Alencar e da professora Ana Lúcia Trevisan, da Universidade Presbiteriana Mackenzie. O jornalista Edney Silvestre fará a mediação do encontro.

As inscrições são gratuitas e podem ser feitas até o dia 28 de agosto pelo e-mail globo.universidade@tvglobo.com.br.

O credenciamento acontece a partir das 9h, no dia do evento. Serão fornecidos certificados aos participantes.

O Realismo Fantástico em Saramandaia
Data: 29 de agosto
Local: Auditório Paulo Emílio (prédio central da ECA)
Horário: 9h30

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Um romance infantojuvenil, mas também para os adultos

Ainda não sabia ler quando eu peguei pela primeira vez em minhas mãos o livro O mistério do cinco estrelas escrito por Marcos Rey.

A capa com um prédio e a sombra de uma mão empunhando uma faca nele com o rosto de um garoto assustado no primeiro plano, me chamou a atenção (e alguns dizem por aí que uma capa não faz muita diferença num livro). Ao folheá-lo, lembro-me que fiquei por vários minutos olhando as figuras e, a partir delas, fui elaborando a história em minha mente.



Anos depois, já alfabetizado, tive a oportunidade de ler o livro. A história me fascinou pelos elementos de suspense, ação, aventura e de investigação policial, tendo como pano de fundo a cidade de São Paulo. Marcos Rey sempre foi um apaixonado pela cidade e de uma forma ou de outra, na maioria dos seus livros, buscou homenageá-la. O seu amor por São Paulo era tão grande, que ao morrer, a sua esposa, do alto de um helicóptero, decidiu jogas as cinzas de Marcos Rey sobre a cidade que sempre o inspirou a escrever.

O livro é direcionado para o público infantojuvenil, mas de forma alguma isso é um impeditivo para os leitores mais maduros apreciarem a história, que se desenrola de uma forma que prende o leitor pela atmosfera de mistério construída pelo autor.

Tudo começa com um corpo encontrado por um jovem mensageiro num quarto de um famoso e rico hóspede de um luxuoso hotel de São Paulo. Mas de quem seria aquele corpo? Qual o motivo dele estar ali, debaixo da cama de um homem rico e famoso? Alguém acreditaria na história contada por um jovem mensageiro?

A partir daí a história se desenrola de forma impressionante. Leo, o novato mensageiro do hotel resolve investigar por conta própria e faz descobertas incríveis que tornam a sua vida um verdadeiro inferno. A história, então, torna-se bastante tensa e isso é levado até o fim dela. Sempre fica a sensação de que algo surpreendente vai acontecer. A ansiedade e a expectativa leva o leitor a sempre querer saber mais e isso faz com ele devore os capítulos.

No livro autobiográfico de Marcos Rey, O caso do filho do encadernador3ª ed., São Paulo: Global, 2012, num trecho (p. 219) o autor comenta sobre o livro:

"Dois meses após o lançamento de O mistério do 5 estrelas, Anderson [dono da editora Ática] me comunicava: a primeira edição esgotava-se, já iam rodar mais 100 mil exemplares. Segundo alguns jornais, foi o best-seller daquele ano de 1981, e até os dias de hoje vendeu um milhão de cópias.

Grande vendagem não assegura que um livro seja bom; muitas vezes prova até o contrário. Mas no meu caso o êxito apontou-me um novo caminho e uma grande fonte de prazer. Passei a escrever anualmente um romance para a juventude".

Nessas férias resolvi reler o livro e também ler a autobiografia do autor (O caso do filho do encadernador) comprada no estande da editora Global no último dia da Bienal Internacional do Livro de São Paulo ocorrida no ano passado.

Foi maravilhoso reler O mistério do 5 estrelas. A cada livro que nós relemos, acabamos descobrindo uma nova história e elementos presentes na narrativa que anteriormente não havíamos prestado atenção. Nessa releitura, pude perceber o quanto o autor escreve de forma ágil, prática e de fácil entendimento. É uma linguagem simples, mas profunda. Num livro de apenas 128 páginas, o autor conseguiu construir uma história envolvente, sem sobressaltos, sem idas e vindas e descrições desnecessárias de ambientes e dos personagens. 

Também li, em seguida, o livro O caso do filho do encadernador, que é a autobiografia do autor. Conheci um pouco mais da vida desse criativo e profícuo escritor paulistano, que somente conseguiu, enfim, viver de literatura num país que se lê tão pouco, quando já estava próximo dos seus 60 anos. 

Morreu em 1º de abril de 1999, aos 74 anos e deixou uma grande variedade de outros romances adultos e infantojuvenis, crônicas e contos que eu pretendo ler. Enfim, é um escritor que ainda eu quero descobrir.