domingo, 6 de abril de 2014

Diálogos deliciosos

O livro Amor Esquartejado, escrito pelo paulista Roger Franchini e publicado pela Editora Planeta, faz parte de dois outros livros em que o autor se utilizou de grandes crimes cometidos na "vida real" como pano de fundo para as suas histórias de ficção policial.



Foi assim com o livro Toupeira - a história do assalto ao Banco Central e Richthofen - o assassinato dos pais de Suzane, este último já lido por mim e com uma resenha aqui neste blog.

O livro Amor Esquartejado tem como pano de fundo a morte do empresário japonês Marcos Matsunaga ocorrida em maio de 2012 em São Paulo. O crime chocou o país, na época, não só pela forma em que morreu o empresário, todo retalhado, mas também pela história do casal, haja vista que a esposa era uma ex-garota de programa e pouco se importou pela vida de luxo em que vivia para se tornar uma criminosa e agora presidiária.

É nessa história horrenda que Franchini desenvolveu o seu livro, mas o leitor não deve esperar uma história cujo foco seja o casal, ou seja, um enredo que conte a história do homem rico, diretor de uma das maiores empresas do Brasil e de uma garota de programa que deixa a vida de prostituta para se tornar uma distinta dona de casa que mora num bairro nobre de São Paulo. Franchini, pelo contrário, aproveita a história para expor mais um pouco os bastidores da polícia civil do Estado de São Paulo, algo que ele começou no seu primeiro livro "Ponto Quarenta" (esgotado) e fez no livro Richthofen.

Por meio de dois personagens policiais, Maurício e Rodrigo, o autor criou uma ficção em que consegue desvelar o que aconteceu dentro dos corredores da polícia judiciária paulista naquela época do sequestro do empresário japonês. A riqueza de detalhes sobre o ofício e o linguajar dos policiais, são fruto do tempo em que o próprio escritor foi investigador de polícia e foram nesses dois aspectos que ele conseguiu prender o leitor numa narrativa menos linear do que ocorreu em Richthofen.

Chamo a atenção aos diálogos deliciosos que permeiam toda a trama. A forma de falar dos policiais é algo que beira o humor. Recheados de palavrões e gírias deixam os diálogos bem interessantes e deixam a narrativa mais leve, mais gostosa de acompanhar e é isso que faz a diferença nos livros policiais escritos por Franchini.

Acredito que o autor poderia ter explorado mais a vida do casal até culminar na morte horrorosa do executivo japonês, como fez no livro Richthofen, onde o escritor se preocupou mais em desvelar o cotidiano da família e dos algozes do casal Richthofen, bem como descrever o clima que pairava na família até a morte prematura do pai e da mãe de Suzane, inclusive com detalhes e descrição muito bem escrita, diga-se de passagem, da morte dos dois.

Franchini poderia, portanto, focar mais o cotidiano do casal formado pela ex-garota de programa e pelo executivo japonês. Isso acabou ficando em segundo plano para contar os bastidores da polícia civil, bem como a guerra que há entre ela e a polícia militar, pouco divulgada na imprensa.

Quando comprei o livro, achei que iria encontrar o que eu li no Richthofen, uma história mais linear, com mais detalhes sobre a família, sobre o casal, as desavenças e as brigas até chegar à morte horrenda do executivo. Como leitor inveterado de livros de terror, esperava detalhes do esquartejamento, de maneira igual a que ele narrou quando da morte dos pais da Suzane, no livro anterior, mas mesmo assim, trata-se de uma obra policial bastante gostosa de ler e que, mesmo não focando o crime em si, dá uma ideia de como funciona a polícia civil do Estado de São Paulo.