sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Uma nova luz a "Tragédia da Piedade"


Depois que eu assisti novamente no ano passado a minissérie Desejo, produzida e exibida pela Rede Globo no começo dos anos 1990, despertou-me o desejo de conhecer mais profundamente a vida e a obra do escritor Euclides da Cunha, as pessoas que fizeram parte da sua curta vida, bem como entender melhor o episódio que levou a sua morte, chamado de "Tragédia da Piedade". Para tanto, nada melhor que ler um livro escrito por uma historiadora, e não é qualquer historiadora, trata-se da Prof.ª Dr.ª Mary Del Priore.

Os historiadores possuem o preparo de realizarem, com maestria, pesquisas históricas, escarafunchar documentos históricos e refazerem, com sucesso, o passado. E isso não foi diferente em Matar para Não Morrer - A morte de Euclides da Cunha e a noite sem fim de Dilermando de Assis, Ed. Objetiva, que conta com uma ampla pesquisa engendrada pela professora, para trazer mais detalhes sobre a tragédia que abalou o Brasil no início do século XX.

Analisando a bibliografia presente no final do livro, dá para termos uma ideia do trabalho que a professora teve para reunir as informações e elaborar o livro, que traz não só a história da morte do escritor Euclides da Cunha, como detalhes da sua conturbada vida com sua esposa,  Ana Cunha, os seus filhos e os irmãos Dinorah e Dilermando de Assis.

Mas o foco do livro é mesmo a vida do algoz de Euclides da Cunha, o general Dilermando de Assis, jovem que teve um relacionamento com a mulher do escritor culminando numa tragédia que vitimou o autor da obra prima "Os Sertões".

Ao longo do livro, a historiadora também traz acontecimentos nacionais e internacionais contemporâneos a história, que se passa no final do século XIX e início do século XX. Além disso, há a descrição de costumes da época, da política nacional, dos personagens de grande relevância nacional e, principalmente, as características de um Rio de Janeiro que estava num efusivo processo de urbanização.

A professora Del Priore não escreveu o livro para "limpar a barra" de Dilermando, tentando pelo seu texto inocentá-lo do crime que comoveu o país na época, mas sim, fazer um estudo sobre quem foi o algoz da família Cunha e deixar o julgamento para cada leitor, mas algo deve ficar claro. 

O ato tresloucado de Euclides, que foi em busca de Dilermando disposto a matar ou morrer, foi um espelho da sociedade vigente naquela época, algo comum, onde a honra era lavada com sangue. Euclides, não foi exceção numa época em que outros milhares de homens pegaram em armas para tentarem limpar os seus nomes.