sábado, 11 de janeiro de 2014

Casagrande revelado

Se embrenhar nas páginas de Casagrande e Seus Demônios, escrito pelo jornalista Gilvan Ribeiro e publicado pela Globo Livros, é conhecer a trajetória de Walter Casagrande Júnior, jogador que fez história pelo Corinthians.

Casagrande teve o seu problema com o uso de drogas exposto pela mídia poucos anos atrás. O caso veio se tornou público recentemente pela veiculação promovida pela imprensa, mas o uso que o jogador fazia da cocaína era bem mais antigo. 


Vários detalhes sobre a iniciação de Casagrande no mundo das drogas até ele se tornar um viciado, bem como a sua trajetória pessoal e profissional, são contados no livro com uma boa riqueza de detalhes.

Destaco no livro o capítulo sobre a overdose que o ex-jogador teve dentro da sua casa e sobre a atuação dele contra a ditadura militar brasileira, ocasião em que esteve à frente, junto com o ex-jogador Sócrates, na condução da "Democracia Corintiana", uma provocação contra aquele regime de exceção. 

A biografia de Casagrande foi narrada por ele mesmo para o jornalista Gilvan Ribeiro, que manteve a forma como o ex-jogador se expressa, inclusive, com o uso de vários palavrões, mas esse detalhe em nada atrapalha ou rebaixa a qualidade do livro, pelo contrário, imprime fluidez a linguagem e na maior parte do tempo parece que o leitor está conversando com o próprio Casagrande pessoalmente.

Em tempos de censura às biografias, em que os biografados parecem temer que contem aspectos obscuros das suas vidas pelos biógrafos, Casagrande parece não ter se intimidado em contar várias passagens da sua vida, algumas felizes e as outras muito tristes. 

A grande mensagem que o livro deixa é o quanto que o uso de entorpecentes destrói a vida de um ser humano. O prazer momentâneo trazido pela droga também deixa para a vida de quem a usa, a dor, a perda da dignidade, a dilaceração dos relacionamentos entre outros, quando não a morte.

Ainda bem que Casagrande despertou a tempo e não optou em seguir um caminho de destruição e de dor. Reconheceu que estava doente e pediu ajuda. O mais bacana foi que a TV Globo não o demitiu guardando o seu cargo para que o ocupasse quando estivesse melhor. Isso fez muita diferença na vida do ex-jogador, que revelou que encontrou no trabalho na TV Globo, uma forma de se sentir útil e de ser valorizado, afastando o desejo de voltar a utilizar droga.

Apesar da aparente normalidade, o ex-jogador vive hoje numa situação em que precisa controlar a ansiedade e lidar com as frustrações e o nervosismo comuns a vida de todo o mortal. Para quem foi um ex-usuário, qualquer motivo pode ser a desculpa para voltar a usar drogas, mas Casagrande tem essa consciência e continua se submetendo a um tratamento com duas psicólogas, além de trabalhar muito, sorte nossa que podemos acompanhar os seus bons comentários pela TV.