terça-feira, 27 de dezembro de 2011

2054: Contos Futuristas, Editora Andross

Como aprecio muito os livros de Literatura Fantástica e dentro dela o gênero Ficção Científica, comprei na cerimônia de comemoração do aniversário da Editora Andross, comemorado em agosto último, a antologia 2054: Contos Futuristas, 95 páginas, organizado pela escritora Márcia Olivieri e lançado em 2010.
O livro reúne 12 contos que narram um pouco da realidade do que seria o ano 2054. O bom da antologia foi que ela conseguiu reunir autores já bastante conhecidos no universo de histórias fantásticas, como Braulio Tavares, Georgette Silen, Márcia Olivieri, Edson Rossatto e Roberto de Souza Causo, sendo este último, também o prefaciador do livro. Vale ressaltar aqui o interessante prefácio denominado "Futuro", aonde Causo conta um pouco sobre o gênero Ficção Científica e os seus subgêneros, se detendo a fazer um retrospecto das histórias de futuro próximo e de futuro distante dentro da Ficção Científica, tanto internacional quanto nacional.

Vamos aos contos:

O conto "Vício Virtual", do escritor paraibano Braulio Tavares, nos dá uma ideia de como poderão, no futuro, ser tratados os fumantes para que eles larguem o vício. Por incrível que pareça, li a história bem no dia em que o Dr. Drauzio Varella lançou pela TV, através do Fantástico, a campanha "Brasil Sem Cigarro". Não tive como deixar de pensar na história que havia acabado de ler. Quem sabe no futuro o método pensado por Tavares não seria eficaz no combate ao vício?

O conto "Gênese Acta", da escritora Georgette Silen, conta a história da gravidez e do parto de Ângela, que é considerada uma mãe da NOM (Nova Ordem Mundial), empresa criada para o desenvolvimento de clones humanos, já que nesse cenários os homens estão esterilizados. Com a clonagem, o ser humano poderia enfim criar uma espécie perfeita, mas a história mostra que nem tudo sai perfeito. Ótimo conto.

Em "Brutality Show", de João Affonso, o mundo está mais conectado do que nunca e os empresários se aproveitam disso para promover reality shows aonde todos podem tecer comentários, dar opiniões e direcioná-los segundo os seus interesses. Na parte final do conto, ocorre uma batalha eletrizante, que faz parte de um grande show acompanhado com atenção por toda a humanidade, que sugere, dá opinião e indica estratégias para os integrantes das equipes que estão se enfrentando.

O conto "O Escolhido", de Moises Braun, conta a história de Capac, um sobrevivente de uma nação que foi arrasada pelas ideias de um líder que teve um alcance mundial. Após séculos, alguns outros sobreviventes criaram uma forma de modificar o passado para reconstruir o futuro e Capac ficou encarregado disso, voltando ao passado e pondo em execução um plano para acabar com aquele líder.

O bancário paulista Celso Bal, escreveu o conto "O Visionário", que possui elementos do universo financeiro. O presidente de um banco querendo expandir as atividades da instituição financeira em que trabalha, propõe um projeto audacioso: financiar pesquisas científicas que proponham explorar o desconhecido, bem como o turismo espacial. Com as recentes notícias veiculadas na imprensa, onde o turismo espacial está ganhando corpo, acredito que em poucas décadas teremos linhas de crédito nos bancos para empreendermos uma viagem pelo espaço.

Em "Colapso Evolutivo Rumo à Pós-História", da mineira Mariana Bizinotto, encontrei um texto em que eu acredito não possuir as características que se enquadram no gênero textual conto, assim, ele se diferencia dos demais que estão na antologia. O texto de Bizinotto é algo que expressa o seu pensamento sobre o futuro da humanidade com o aperfeiçoamento da tecnologia. Daria para a autora desenvolver um excelente conto tomando como ponto de partida o seu texto publicado nessa antologia.

A escritora organizadora do livro, Márcia Olivieri, escreveu o interessante conto "Escuridão Sideral", que conta a história de um acordo entre um alienígena e os militares terráqueos para esses últimos, oferecerem carne humana. Por que será?

O escritor Gustavo Campello, no conto "Quando um homem é homem" nos traz uma história que é conduzida muito bem até o meio dela. Achei que ela se perdeu no final. Daria para explorá-la com um final mais surpreendente. A história foi bem escrita e proporciona uma leitura agradável. O autor conseguiu trazer elementos de mistério e suspense para a sua história. O conto narra a descoberta que um homem faz, de uma maneira assustadora, sobre ele mesmo.

O conto "O Protótipo Perfeito de Simpósia Rafrida", da premiada escritora Anabel Sampaio, narra o encontro de duas mulheres: uma humana e a outra híbrida, resultado da mistura de uma mulher terráquea com uma beldade do espaço. Nesse encontro, a mulher humana chega a uma importante conclusão.

Bom conto o "Máquinas Sentimentais", do autor brasiliense Maykon Alves. Gostei da forma que ele conduziu a narrativa de maneira criativa, se configurando numa leitura gostosa de fazer. A história narra "como serão" as relações de trabalho entre os empregadores e empregados. Algo horrível, ainda mais por ter a participação do governo.

O conhecido escritor paulistano Edson Rossatto tem publicado na antologia o bom conto "Espera". Gostei da sua criatividade e da forma que escreveu a sucessão de acontecimentos na vida de uma pessoa que provavelmente foi a única sobrevivente de algo terrível que ocorreu no mundo. O que será que aconteceu com a humanidade?

Excelente o conto do premiado e conhecido escritor de literatura fantástica, Roberto de Sousa Causo, intitulado "Pré-Natal". Na história escrita de uma maneira que nos prende do início ao fim, há um homem que está gerando um filho, isso mesmo, mas essa criança terá um papel muito importante ao nascer. Ela poderá mudar o futuro de um lugar que vive sob o jugo pesado de um regime ditatorial. Durante a leitura do conto, não consegui parar de lembrar dos regimes ditatoriais ainda existentes no mundo, em especial, o de Cuba e o da Coréia do Norte. Ambos se tornaram notícias dias atrás.

De modo geral, a antologia é boa.  Contêm textos muito bons e outros com uma qualidade inferior, no tocante a forma que o enredo foi conduzido pelo(a)s escritore(a)s. Algumas histórias tinham o potencial de serem muito boas, pelos temas abordados, mas no momento da escrita, o(a) autor(a) não conseguiu explorar esse potencial. Esse desequilíbrio apresentado por essa antologia é algo absolutamente normal, por agregar diferentes autore(a)s com também diferentes forma s de escrever e "enxergar" a ficção científica.

2 comentários:

  1. Boa tarde Angelo.
    Obrigado pela resenha do livro “2054: Contos Futuristas”!
    Num país como o nosso, onde a pesquisa e o desenvolvimento científico e tecnológico de ponta são sempre preteridos em favor de investimentos mais “populares” e eleitoreiros – como a construção de estádios de futebol – é natural que a ficção-científica fique relegada as prateleiras mais “baixas” das estantes da maioria das editoras e livrarias, bem como das mentes da maior parte dos leitores (ao menos aqui no sul do Brasil...). Por isso, manifestações como a sua são um estímulo para aqueles que sonham com mundos “além da imaginação” limitada das fronteiras políticas e culturais do nosso país.
    Abraço,
    Moises Braun
    p.s. Na descrição do meu conto “O Escolhido” ficou faltando uma palavra de ligação entre as palavras “sobreviventes” e “uma” no trecho “...outros sobreviventes uma forma de modificar o passado...” Ali poderia ser inserido algo como criaram, descobriram, desenvolveram...

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  2. Oi Moises Braun, agradeço pelo seu comentário. Obrigado pelo toque quanto a escrita sobre o seu texto. De fato, cometi um pequeno deslize, que já foi consertado.

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